Um homem alcança a riqueza ao se vingar de sua ex-namorada, trair seu melhor amigo, ignorar aqueles que o ajudaram e afastar sócios inconvenientes. Em “A Rede Social” (2010), dirigido por David Fincher, esse é o retrato de Mark Zuckerberg. Apesar das indenizações pagas aos que prejudicou, ele se torna bilionário, com dinheiro sendo seu único relacionamento fiel. O filme, que recebeu inúmeras indicações ao Oscar, levanta a pergunta: onde está a amizade, um conceito central do Facebook?
“A Rede Social”, na Netflix, habilmente manipula a ideia de amizade. Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) e Eduardo Saverin (Andrew Garfield), amigos inseparáveis, criam um clube online onde cada membro forma sua própria rede de contatos. A ideia, nascida em Harvard, se expande rapidamente, alcançando bilhões de usuários. O rompimento da amizade ocorre quando Sean Parker (Justin Timberlake), cofundador da Napster, entra em cena. Parker, com seu passado conturbado, divide a dupla, marginalizando Saverin e eventualmente saindo do cenário, mas mantendo uma pequena participação nas ações.
Embora o filme seja uma ficção, é criticado por não refletir fielmente a realidade dos eventos. No entanto, seu valor está na narrativa cinematográfica, que apresenta um contraste com a percepção pública da rede social. No mundo virtual de “amigos”, tudo parece harmonioso, enquanto no filme, vemos um cenário de conflitos intensos. A monetização da ideia é o ponto crucial: registrar o site sem o conhecimento dos outros envolvidos, enganar Saverin para obter fundos iniciais, e decidir entre anunciantes ou investidores para expandir a empresa. O resultado foi positivo, apesar dos processos judiciais, consolidando a amizade com o lucro.
O filme também traz uma visão crítica e racista, focando em jovens milionários brancos que fazem pouco caso de outras culturas, como a brasileira ou caribenha, e retratando “asiáticas” de forma objetificante. Nerds vingativos superam atletas loiros, refletindo as frustrações do jovem Zuckerberg em relação a seus próprios fracassos amorosos.
A partir deste filme, surge a questão: os sites de relacionamento transformaram ou substituíram a amizade? A amizade tradicional já estava em declínio com a urbanização e a mobilidade social, tornando-se superficial e pautada pelo consumo e lazer, em vez de princípios duradouros. Talvez esses princípios nunca tenham sido hegemônicos, sempre permeados por falsidade e traição. As redes sociais, como Facebook, Twitter e Orkut, vieram para preencher o vazio deixado pela dissolução dos laços sociais tradicionais, regulando e formando novas redes de contatos em um mundo cada vez mais disperso.
Esses sites funcionam porque oferecem ficções que atendem necessidades reais. As pessoas precisam de amigos, mas sabem que não podem contar com ninguém. Mantêm perfis no Facebook para interagir com desconhecidos, que, com o tempo, parecem tão próximos quanto familiares. Na sociedade do espetáculo, a representação vale mais que a realidade. Assim, nos envolvemos nas narrativas dos empreendimentos tecnológicos, nas comunidades universitárias e nos negócios globais, compreendendo um pouco mais desse intrincado cenário mundial que nos afeta profundamente.
Filme: A Rede Social
Direção: David Fincher
Ano: 2010
Gêneros: Drama/Ficção Histórica
Nota: 10/10