Obra-prima com Michelle Williams indicado a 64 prêmios, entre eles 2 Oscars, está no Prime Video Divulgação / The Weinstein Company

Obra-prima com Michelle Williams indicado a 64 prêmios, entre eles 2 Oscars, está no Prime Video

Colin Clark (1932-2002) teve uma das maiores alegrias que um homem poderia ter vivido no século 20. Assistente de produção em “O Príncipe Encantado” (1957), esse rapaz de 25 anos incompletos pôde desfrutar de muito mais que a atenção, o charme, a beleza, o glamour e o carisma de Marilyn Monroe (1926-1962): ele simplesmente arrebatou o coração da estrela número um de Hollywood — ainda que o romance dos dois pareça ter sido feito de uma camada generosa de platonismo, de parte a parte.

Em “My Week with Marilyn” (2000), misto de notas autobiográficas e crítica de cinema, o sexagenário Clark relata com deliciosa picardia o que foi aquela semana mágica com uma deusa, saída do Olimpo para partilhar com ele suas imensas fragilidades, e tomando o livro por base,  Simon Curtis faz o mesmo em “Sete Dias com Marilyn”, revisitando histórias de bastidores passadas enquanto Laurence Olivier (1903-1989), um dos melhores atores de todos os tempos, aventurava-se na direção, arrastando consigo uma massa de olhares curiosos, como sói acontecer quando mitos desafiam expectativas.

Ninguém se lembra do longa de Olivier sem o auxílio de um refresco da memória, mas para Clark aquele trabalho modesto, quase absconso, teve o condão de transformar sua vida: foi quando se deu conta de que as estrelas morrem aos poucos.

Marilyn nunca foi a mulher fatal que Jane Russell (1921-2011) ou Brigitte Bardot, suas contemporâneas, adoravam ser. Com sutileza, o roteiro de Adrian Hodges deixa isso claro, aproveitando para esclarecer também que Clark nunca fora o tipo de homem que viraria a cabeça da moça de cabelos platinados, batom vermelho, vestidos esvoaçantes e um belo par de seios e quadris tamanho 44, que os cuidadosos enquadramentos de Curtis e a fotografia de Ben Smithard fazem reviver na pele de Michelle Williams.

Para folguedos de alcova, ela preferia Joe DiMaggio (1914-1999), Arthur Miller (1915-2005) e, segundo alguns relatos, Robert Mitchum (1917-1997) e Bobby e John Kennedy (1917-1963), homens cujo cérebro, vitalidade e, o principal, a autoconfiança despertavam na necessidade de defesa paternal que jamais teve. Nessas horas, Marilyn expulsava a loira infernal e cedia-lhe o lugar a Norma Jeane Mortenson, identidade que no fundo nunca deixou de acompanhá-la.

Aos trinta anos, sofrendo com hiatos no casamento com Miller, a verdadeira protagonista da comédia romântica de Olivier, encarnado, como não poderia ser de outro modo, por Kenneth Branagh, resolve nadar nua no lago da propriedade inglesa  onde estava morando. Numa bela cena à luz da lua, o diretor confere a devida ênfase à solidão de Monroe; é em ocasiões que Williams ultrapassa a margem e numa só tacada absorve a maldição e a santidade daquela mulher que parecia nunca ter querido estrelato nenhum, apenas o amor.

Com Marilyn, paraíso e inferno eram açambarcados num único corpo e numa alma só, sem chance de purgatório. Eddie Redmayne é capaz de persuadir quem assiste de que Clark era tudo de que ela precisava, além da lua e das plácidas águas de um lago idílico. Mas Marilyn Monroe era um transatlântico em busca de um porto grande o suficiente para suas ilusões tão autodestrutivas.


Filme: Sete Dias com Marilyn
Direção: Simon Curtis
Ano: 2012
Gênero: Romance/Drama
Nota: 8/10