Indicado ao Oscar, obra-prima de Yorgos Lanthimos é o filme mais excêntrico e inteligente que você vai ver na Netflix Divulgação / Protagonist Pictures

Indicado ao Oscar, obra-prima de Yorgos Lanthimos é o filme mais excêntrico e inteligente que você vai ver na Netflix

Yorgos Lanthimos é conhecido por sua fascinação por cenários e personagens excêntricos e estranhos. Em “O Lagosta”, ele explora desejos humanos profundos e insólitos, levantando questões sobre a pertinência social de certas escolhas individuais. Isso gera uma série de reflexões sobre a necessidade humana de encontrar seu lugar no mundo.

Em “Dente Canino” (2009), Lanthimos já havia examinado a rebeldia de três adolescentes contra seus pais opressores. Em “Alpes” (2011), ele mergulhou na dificuldade de lidar com a morte. Esta exploração continua no perturbador “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017) e em “A Favorita” (2018), uma crítica satírica aos costumes da Inglaterra do início do século 18, onde o poder e o afeto de uma rainha carente eram disputados.

Lanthimos e o co-roteirista Efthimis Filippou, que colaboraram em “Dente Canino” e “Alpes”, escolheram um caminho árduo e poético para satirizar a ditadura dos sentimentos falsos em uma humanidade obcecada por seus próprios encantos. Esse paradoxo transforma o filme em uma jornada pelos sombrios e úmidos bosques interiores de cada indivíduo. Após uma decepção amorosa, os solteiros têm 45 dias para encontrar um novo parceiro, segundo a trama de Lanthimos e Filippou. Caso falhem, são enviados para um hotel em uma montanha isolada, remetendo ao romance de formação de Thomas Mann, mas com um toque mais ácido.

No hotel, os homens vestem camisas de corte uniforme, azul-claras ou brancas, e calças marrons, enquanto as mulheres usam suéteres e vestidos escuros. Todos entregam seus pertences e esperanças na recepção, na expectativa de ter mais sorte do que tiveram na sociedade. Caso contrário, serão transformados no animal de sua escolha e soltos na floresta ao redor do hotel, livres de interferências humanas. David, interpretado por Colin Farrell, escolhe a lagosta como animal por sua longa vida — quem imaginaria que esse ser peculiar e saboroso vive até cem anos? —, seu sangue azul, que ele associa à nobreza, e por nunca tocar o solo, uma vantagem em um ambiente cheio de caçadores.

Os dois terços restantes do filme detalham a possível existência de David em seu novo corpo. Enquanto isso não se concretiza, a personagem de Rachel Weisz narra a história do companheiro improvável, com a narrativa se estendendo um pouco, mas sendo ocasionalmente salva pelas intervenções de John C. Reilly e Ben Whishaw. Olivia Colman, como a gerente do hotel, assume um papel coadjuvante de luxo. O desfecho, no entanto, onde David decide seu destino, redime muitos dos deslizes narrativos de Lanthimos.


Filme: O Lagosta
Direção: Yorgos Lanthimos 
Ano: 2015
Gêneros: Romance/Comédia/Drama 
Nota: 8/10