Últimos dias para assistir à melhor ficção científica dos últimos 10 anos, na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Últimos dias para assistir à melhor ficção científica dos últimos 10 anos, na Netflix

No filme “A Chegada”, dirigido pelo franco-canadense Denis Villeneuve, o suspense psicológico encontra a ficção científica de uma forma que realça a essência de uma obra refinada. Villeneuve utiliza o roteiro de Eric Heisserer para criar uma experiência imersiva, repleta de momentos entre o assustador e o epifânico, com uma forte carga onírica, que penetra nas camadas mais profundas do subconsciente humano.

Essa atmosfera de estranhamento inicial se transforma em algo orgânico e natural, refletindo diferentes aspectos da vida de cada espectador. As questões de sobrevivência, apego material, confortos de uma economia desenvolvida e a busca incessante do ser humano por dominar e afirmar sua superioridade encontram um adversário formidável — um rival que nos observa desde tempos imemoriais e sobre o qual pouco se sabe.

Considerando que toda narrativa possui um começo, meio e fim, é lógico supor que o mesmo se aplica à Terra e ao universo. Os estudos de Albert Einstein sobre o tempo, a luz e a gravidade, que fundamentam a Teoria Geral da Relatividade, explicam o desejo da humanidade de controlar a passagem do tempo. Se tomarmos os postulados de Einstein de forma pura, seria possível reorganizar os eventos cronologicamente, conforme as necessidades humanas.

Stephen Hawking, com suas pesquisas sobre espaço-tempo e radiação de buracos negros, reforçou essas ideias, sugerindo que a luz se transforma em novas fontes de energia, empurrando tudo para um limbo onde a vida poderia recomeçar.

Louise Banks, uma neurolinguista interpretada por Amy Adams, utiliza esses conceitos para desenvolver uma nova forma de comunicação universal. Sua obsessão pelo trabalho a mantém funcional após a morte de sua filha, Hannah, resultando em cenas intensas e comoventes. No segundo ato do filme, quando seres interplanetários se estabelecem nas Grandes Planícies de Montana, Banks é convocada para ensinar inglês aos visitantes e aprender sua linguagem, semelhante ao processo de educação de uma criança.

Durante esse processo, Villeneuve inunda a protagonista com memórias dolorosas, que quase a levam à loucura, mas também servem para conectar os temas científicos de Einstein e Hawking com a história pessoal de Banks e sua filha.

A habilidade de Villeneuve em ligar temas aparentemente desconexos em uma narrativa coesa destaca tanto a física quanto as emoções humanas. Louise Banks pode encontrar uma oportunidade de reviver momentos que não teve com Hannah, proporcionando um novo início para sua história interrompida. Além disso, a relação crescente com o colega Ian Donnelly, vivido por Jeremy Renner, sugere uma promessa de felicidade futura. Assim, “A Chegada” transcende seu gênero e se revela também uma história de amor.

O filme mescla de maneira única elementos científicos e emocionais, proporcionando uma experiência que é tanto intelectual quanto visceral. Villeneuve constrói uma narrativa que não apenas explora os limites da física e da linguagem, mas também mergulha profundamente nas motivações e sentimentos humanos.

Amy Adams, em uma atuação poderosa, personifica a luta e a resiliência de alguém que busca sentido em meio ao caos. O relacionamento entre Banks e Donnelly adiciona uma camada adicional de complexidade e humanidade à trama, mostrando que, mesmo em meio a crises globais, as conexões pessoais permanecem essenciais.

“A Chegada” é um filme que desafia a mente e toca o coração, refletindo sobre a natureza do tempo, da comunicação e do amor. Denis Villeneuve, com sua direção precisa e sensível, cria uma obra que é ao mesmo tempo um tributo ao pensamento científico e um estudo profundo das emoções humanas. Através de uma narrativa envolvente e personagens bem desenvolvidos, o filme oferece uma visão esperançosa do futuro, onde o entendimento e a cooperação podem transcender barreiras aparentemente intransponíveis.


Filme: A Chegada
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2016
Gênero: Ficção científica/Thriller
Nota: 10