Últimos dias para assistir ao filme com Kevin Spacey que foi fenômeno de bilheteria, na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Últimos dias para assistir ao filme com Kevin Spacey que foi fenômeno de bilheteria, na Netflix

Enriquecer com uma única rodada de sorte pode parecer apenas obra do acaso, mas há quem conheça os truques para dar uma ajudinha à fortuna. São os mestres dos números e dos complicados cálculos que revelam quantos coelhos podem sair de uma cartola e, mais importante ainda, como fazê-los sair, desafiando assim a estabilidade da roleta que gira incansavelmente, movimentando bilhões de dólares desde 1913, quando os cassinos de Las Vegas foram oficialmente legalizados, marcando um ponto crucial na história daquela cidade outrora árida e desprovida de oportunidades, perdida no meio do deserto de Mojave.

É nesse cenário que se desenrola “Quebrando a Banca”, uma narrativa que tenta desvendar os segredos do sucesso no mundo do jogo, mesmo que isso signifique fracasso em outras áreas da vida, como alertam as vozes sábias das ruas. Inspirado no livro-reportagem de Ben Mezrich, “Bringing Down the House: The Inside Story of Six MIT Students Who Took Vegas for Millions” (sem tradução em português), o filme dirigido por Robert Luketic segue de perto os acontecimentos narrados, dando vida aos protagonistas e explorando suas motivações profundas em meio ao turbilhão de emoções e ilusões que cercam cada aposta.

Os roteiristas Allan Loeb e Peter Steinfeld capturam o folclore de Vegas, uma cidade que se orgulha do título de Cidade do Pecado, onde a falsa promessa de realização de sonhos e a permissividade reinante criam uma atmosfera única, onde tudo é permitido e a sorte parece estar sempre ao alcance. “Ao vencedor, as batatas”, como diria Quincas Borba, personagem emblemático de Machado de Assis, uma expressão que ecoa entre os jogadores ávidos por desafiar a fortuna nos suntuosos cassinos que dominam a paisagem de Nevada, representando de forma exagerada o capitalismo voraz que é a essência da América.

Embora os personagens não tenham lido “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, o diretor aposta nos princípios investigados por Mezrich para construir uma narrativa envolvente e repleta de suspense. Micky Rosa, o professor de probabilidade do MIT, utiliza o jogo de blackjack para ensinar conceitos complexos aos seus alunos, incluindo Ben Campbell, um jovem brilhante em busca de uma vaga na faculdade de medicina de Harvard. Rosa vê em Campbell uma oportunidade de expandir seus horizontes além da academia, introduzindo-o em um esquema arriscado de contagem de cartas que promete multiplicar seus ganhos de forma exponencial.

À medida que a história avança de Boston para Las Vegas, a parceria entre mestre e aprendiz revela-se cada vez mais lucrativa, mas também mais perigosa. Kevin Spacey e Jim Sturgess entregam performances cativantes, retratando com maestria a dinâmica complexa entre os personagens.

No entanto, a ascensão meteórica deles não passa despercebida aos olhos atentos de Cole Williams, o astuto chefe de segurança do cassino, interpretado por Laurence Fishburne, que logo percebe as irregularidades nas jogadas e inicia uma perseguição implacável. O inevitável confronto leva Ben Campbell a enfrentar as consequências de suas escolhas, numa reviravolta que culmina em sua redenção pessoal e profissional.

O desfecho, embora previsível, é coerente com o desenvolvimento da trama, destacando a fragilidade das ambições construídas sobre bases instáveis e a importância de aprender com os erros. Ben Campbell, após enfrentar suas próprias sombras, finalmente alcança seu objetivo de ingressar em Harvard e se formar médico, mas não sem antes absorver uma lição valiosa: o que é conquistado facilmente pode ser perdido da mesma forma. Em meio ao brilho e ao glamour de Las Vegas, “Quebrando a Banca”, na Netflix, nos lembra que, no jogo da vida, é a habilidade de lidar com as adversidades que verdadeiramente determina o vencedor.


Filme: Quebrando a Banca
Direção: Robert Luketic
Ano: 2008
Gêneros: Drama/Policial
Nota: 8/10