A comédia romântica, na Netflix, que vai te fazer querer ficar em casa no sábado à noite Divulgação / Lionsgate Entertainment

A comédia romântica, na Netflix, que vai te fazer querer ficar em casa no sábado à noite

Filhos podem passar uma vida inteira em busca da felicidade que seus pais não lhes deram. Não há nada que garanta, mas essa sensação de plenitude pode estar também na união com aquela pessoa cujo coração também empedernido não deixa de ansiar por algum conforto, e a mágica, enfim, acontece. Por meio de uma situação absurda, “O Casamento do Ano” expõe as diferentes maneiras de se falar da mais humana das emoções numa história que prima por esconder em cenas ridículas verdades ferozes.

O filme de Justin Zackham apura uma série de tropos gastos, muito próprios desse gênero, de forma a dar um verniz de comicidade a um episódio que deveria sugerir um nó dramático difícil de afrouxar, mas que vira uma farsa cheia de meandros sobre as relações colaterais a permear a vida de dois apaixonados. O roteiro de Zackham e Karine Sudan volta a “My Brother is Getting Married” (2006), de Jean-Stéphane Bron, fazendo ajustes pontuais na intenção de abrigar novas piadas, ditas por atores veteranos que conseguem resultados admiravelmente bons a partir de um mote já explorado antes, ao passo que instigam o núcleo jovem do elenco a não se acomodar.

Alejandro, um dos filhos de Don Griffin e Ellie, está prestes a se casar com Missy O’Connor, uma garota bonita e católica de ascendência irlandesa e pais no mínimo suspeitos. Só nessa brevíssima síntese, o diretor encadeia dois conflitos pródigos em abordagens de várias naturezas, a começar por Alejandro, colombiano de nascimento, ser vivido por Ben Barnes, um ator branco com o rosto visivelmente maquiado para parecer mais escuro, um equívoco desnecessário que mina a força da mensagem em grau nada irrisório. Alejandro fora adotado por Don e Ellie ainda bebê, e agora, três décadas mais tarde, faz questão da presença da mãe biológica no altar.

Enquanto leva em banho-maria a noiva, Zackham se empenha em destrinchar o vasto universo em que orbita o personagem de Barnes e os pais que aprendeu a amar acima do sangue, sem se esquecer também de Bebe, a esposa de Don. Na cena que ilustra esse caos afetivo, Ellie chega para os preparativos da celebração com uma semana de antecedência e encontra o ex-marido e a cônjuge refestelados sobre a rústica mesa da cozinha, botando em prática o talento de Don numa modalidade de preliminar sexual. Em atuações ousadas e despretensiosas, Robert De Niro e Susan Sarandon servem de guias que deixam inequívoco o desejo de, sempre que possível, chutar o balde e provocar em quem assiste dúvidas quanto à moral e à sanidade daquela gente, e mesmo Ellie, a senhora respeitável que contrasta flagrantemente com a exuberância de Bebe, acaba por se corromper.

Para que Madonna, a outra mãe de Alejandro não se escandalize, alguém tem a brilhante ideia de fazer com que Don e Ellie passem por um casal feliz novamente. Madonna, como Missy também uma católica fervorosa e radical, não admitiria que o filho que abandonara pouco depois de nascer tivesse por pais adotivos duas almas condenadas à sarça ardente por terem rejeitado a bênção do matrimônio — embora Alejandro fosse já bastante crescido quando da separação. Malgrado inicialmente deslocada, Patricia Rae vai encontrando seu lugar na trama, bem como Amanda Seyfried, que nunca perde uma chance de dar um colorido qualquer a seus trabalhos, aindaque em participações quase burocráticas como essa. E dói constatar que Robin Williams (1951-2014) como Moinighan, o padre alcoólatra de humor agridoce, seja uma alegoria rasa nessa comédia nada divina.


Filme: O Casamento do Ano
Direção: Justin Zackham
Ano: 2013
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10