Filme com Emma Stone, indicado a 10 Oscars, está na Netflix e você ainda não assistiu  Divulgação / Fox Searchlight Pictures

Filme com Emma Stone, indicado a 10 Oscars, está na Netflix e você ainda não assistiu 

Conflitos entre indivíduos que compartilham algum vínculo não são uma novidade nas produções cinematográficas, incluindo as de Yorgos Lanthimos. O cineasta grego já havia explorado essa temática em “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), e continuou com “A Favorita”, ambientado na Inglaterra do início do século XVIII. Este filme retrata a disputa crescente entre duas aristocratas, uma já inserida na corte da Rainha Ana da Grã-Bretanha e outra, falida, que anseia pelo mesmo status que ajudou a consolidar a posição da primeira, reivindicando agora sua parte nas recompensas. 

O tom descaradamente satírico de “A Favorita” o diferencia de outras narrativas sobre a realeza britânica e regiões vizinhas, um gênero que se fortaleceu com produções detalhadas como “O Rei” (2019) de David Michôd, “Legítimo Rei” (2018) de David Mackenzie, e “Duas Rainhas” (2018) de Josie Rourke. Neste último, destaca-se a estética e a clara intenção de apresentar mulheres poderosas em jogos de manipulação e sedução, determinadas a nunca ceder, seguindo uma espécie de mandato divino. No entanto, Lanthimos vai além dessas fronteiras. 

Deborah Davis e Tony McNamara foram responsáveis pelo roteiro do filme, que se baseia em um episódio real da vida de Anne, uma das figuras mais enigmáticas da monarquia britânica, governante durante o início de uma das muitas guerras contra a França. 

Olivia Colman interpreta Anne, uma figura simultaneamente repulsiva e capaz de despertar empatia, afetada por males que poderiam ser interpretados como reações a intensas crises de gota ou como indicativos de distúrbios psicológicos ainda desconhecidos na época. Glutona, misantropa e com hábitos peculiares, como criar coelhos — dezessete ao todo, um para cada filho que perdeu em gestações complicadas que prejudicaram ainda mais sua saúde. 

Anne recebe uma atenção especial de lady Sarah Churchill, duquesa de Marlborough, tão íntima que as duas se tornaram amantes, com o incentivo pouco discreto de lorde Marlborough, esposo de Sarah, interpretado por Mark Gatiss. Humanizar figuras da realeza é um desafio significativo, e Colman conquistou o Oscar de Melhor Atriz por sua interpretação da trágica rainha. A performance de Rachel Weisz como a duquesa, com sua expressão frequentemente tensa, olhar intenso mas ocasionalmente doce e uma lealdade oscilante, rouba a cena, especialmente após uma reviravolta que catalisa o desenvolvimento da trama. 

Desafortunada pela ruína financeira de seu pai, Abigail Masham, empobrecida, busca emprego nos aposentos dos serventes do castelo. Aceita como empregada, ela formula estratégias para ascender socialmente. Ao manusear lixívia, sofre graves queimaduras nas mãos, mas isso não a desmotiva. Seu momento decisivo ocorre quando descobre as úlceras nas pernas da rainha; colhe ervas conhecidas por suas propriedades curativas, as prepara e aplica nas feridas, o que eventualmente a eleva ao status de nova favorita da corte. 

Emma Stone adiciona uma vivacidade ao ambiente opressivo do castelo, sensação intensificada pelo uso de lentes olho de peixe, particularmente em cenas que envolvem Colman, Weisz e Stone. A performance destas três atrizes, cada uma miserável à sua maneira, é fundamental para a narrativa do filme. 


Filme: A Favorita
Direção: Yorgos Lanthimos
Ano: 2018
Gêneros: Comédia/Drama/Thriller
Nota: 9/10