Belíssimo e inspirador, drama europeu de tirar o fôlego está na Netflix Joseharo / Walt Disney Studios

Belíssimo e inspirador, drama europeu de tirar o fôlego está na Netflix

Não se pode afirmar que o afeto materno seja sempre inabalável e livre de condições. As mães, contudo, exercem uma influência marcante na trajetória dos filhos, capazes de transformar suas vidas — frequentemente para melhor, embora às vezes de maneira prejudicial a personalidades em formação. Elas agem com determinação, como se fossem correntes de água buscando passagem por fissuras em uma barragem, pressionando o concreto até provocar rachaduras e eventual ruptura, desencadeando mudanças significativas e levando consigo aqueles que tentam contê-las. 

“Farol das Orcas” (2016), uma produção argentino-espanhola dirigida por Gerardo Olivares, aborda a história de uma mãe empenhada em compreender seu filho para melhor inseri-lo no mundo, usando como pano de fundo paisagens magníficas e a presença de animais selvagens, uma alegoria poderosa sobre os desafios da vida. Baseado em eventos reais ocorridos em Chubut, Argentina, este filme, fruto de uma colaboração com a Espanha, explora questões sensíveis como o autismo por meio de atuações profundamente envolventes, que não apenas cativam pela qualidade dos atores, mas também promovem a empatia e a reflexão do público sobre a seriedade do tema. 

A narrativa se desenvolve a partir de “A Prostituta e a Baleia” (2004), de Luis Puenzo, pai de Lucía Puenzo. A intrigante premissa do filme e a estética da Patagônia argentina capturam o interesse pela vida de Roberto Bubas, conhecido como Beto, um guarda florestal que passou anos isolado, acompanhado apenas por um cavalo e orcas, sem chegar a conclusões definitivas sobre seu estudo. O filme só foi produzido quando um diretor espanhol assumiu o projeto, anos após sua concepção inicial, com um orçamento maior financiado por parceiros argentinos e espanhóis. 

Lola, uma médica de Madrid interpretada por Maribel Verdú, dedica-se intensamente ao estudo do autismo, uma condição pouco compreendida. Em um ponto crucial da trama, ela enfatiza que o transtorno que afeta seu filho Tristán, interpretado por Joaquín Rapalini, não é uma doença, mas um distúrbio neurológico. Movida pela resposta positiva de seu filho a um documentário sobre Beto e as orcas, Lola viaja pelo Atlântico em busca de alívio para o sofrimento de Tristán. A chegada inesperada de mãe e filho cria um inicial desconforto com o solitário Beto, mas logo se desenvolve uma conexão profunda entre eles, incluindo um romance entre Beto e Lola que adiciona uma leveza ao enredo, balanceando a seriedade do autismo. 

O filme sugere que parte dos desafios enfrentados por Tristán decorre de sua educação. As circunstâncias envolvendo seu pai e a família de Beto são incertas, mas a nova dinâmica de relações, baseada em ausências e recomeços, é um ponto chave da história. Ana Celentano interpreta Marcela, uma nova amiga de Lola, cuja vida compartilha muitas semelhanças com a da protagonista. Marcela, uma pintora que se reinventa na remota e fria Patagônia, atua como um espelho para Lola, reavivando seu apreço pela vida. Enquanto isso, Bonetti, um oficial interpretado por Osvaldo Santoro, expressa sua oposição aos esforços de Beto para ajudar na recuperação de Tristán, culminando em revelações que alteram os planos de ambos. O filme termina com uma nota de esperança ou talvez uma ilusão de felicidade, simbolizada pela superação de Tristán de seus medos, tanto externos quanto internos. 


Filme: Farol das Orcas 
Direção: Gerardo Olivares 
Ano: 2016 
Gêneros: Drama/Romance 
Nota: 9/10