Com Edward Norton e Naomi Watts, uma das maiores histórias de amor em 130 anos de cinema está na Netflix John Curren / Warner Bros

Com Edward Norton e Naomi Watts, uma das maiores histórias de amor em 130 anos de cinema está na Netflix

Houve um período em que o romance dominava o cenário cinematográfico de Hollywood. Atualmente, embora as comédias românticas sejam frequentes, os dramas românticos profundos, que defendem a ideia de que o amor é capaz de superar grandes adversidades e preencher lacunas emocionais, tornaram-se raros. Eles geralmente se passam em eras passadas, talvez porque, em uma era de liberdade sexual ampla, o conceito de amor parece ter perdido parte de seu impacto. “O Despertar de Uma Paixão”, baseado no livro de William Somerset Maugham de 1925, mantém sua relevância como uma peça de reflexão profunda, demonstrando ser uma experiência intelectualmente estimulante, rara entre os filmes modernos. 

A interpretação de John Curran do romance de Maugham captura essencialmente a essência da narrativa. Os pais de Kitty, interpretada por Naomi Watts, estão mais perturbados com sua solteirice do que ela. Na história, ambientada na década de 1920, eles desejam para ela um destino similar ao de outras mulheres de sua idade, apesar de Kitty não ver problema em permanecer solteira. Sua situação se complica quando sua mãe amplia os comentários críticos que fazia em privado, pressionando-a ainda mais. 

Walter Fane, um microbiologista, sempre esteve por perto, observando Kitty como um parasita observa um hospedeiro, desejando envolver-se com ela, apesar de suas esperanças não serem correspondidas. Edward Norton interpreta Fane com uma severidade que permite uma eventual suavização emocional, um processo que ocorre de forma natural, um testemunho do poder transformador do amor. O filme rapidamente faz o espectador entender que ambos são vítimas das convenções sociais e, apesar das supostas paixões de Fane, são forçados ao casamento. 

Fane propõe casamento a Kitty de maneira abrupta, pois precisa retornar a Xangai em dois dias para continuar seu trabalho contra epidemias. A pressão social da família leva-os ao altar de forma pouco romântica. 

Curran, que também dirigiu “Tentação” (2004), estrelado por Naomi Watts, reproduz fielmente o texto de Maugham, levantando questionamentos sobre o valor do casamento, mesmo em uma época que dificilmente concebia a felicidade fora dessa instituição. O roteiro sugere que a infelicidade de duas almas separadas não se dissipa simplesmente por estarem casadas. 

Em um contexto de isolamento na China, a trilha sonora de Alexandre Desplat destaca a solidão dos personagens, e as imagens um tanto turvas refletem suas memórias e fantasmas. Curran enfatiza a severidade do ambiente em que vivem, exacerbando a hostilidade do meio. 

Quando Kitty, já casada e insatisfeita, encontra Charlie Townsend, interpretado por Liev Schreiber, ela se envolve em um affair que leva a consequências dramáticas. A relação ilustra a dificuldade de Kitty em aceitar sua realidade e sua tendência a manipular as situações a seu favor. 

A narrativa de “O Despertar de Uma Paixão” se desdobra mostrando a complexidade das relações humanas e a capacidade de mudança, que é vividamente capturada por Naomi Watts em uma interpretação que ressoa com força, desespero e eventual redenção. A transformação de Kitty, ao final, simboliza um possível renascimento, marcando uma mudança drástica em sua trajetória de vida.


Filme: O Despertar de Uma Paixão 
Direção: John Curran 
Ano: 2007 
Gênero: Romance/Drama 
Nota: 10/10