Nós ouvimos bastante sobre os povos indígenas das Américas, mas sabemos pouco sobre os nativos europeus, que frequentemente também são alvos de hostilidade, saques e extermínio. Atualmente, os sami são cerca de 70 mil pessoas que habitam áreas montanhosas, florestais, costeiras e geladas em países como Suécia, Finlândia, Noruega e Rússia.
Em “Herança Roubada”, dirigido pela cineasta estreante Elle Márjá Eira e adaptado para as telas por Peter Birro, o filme inspirado na história real publicada em 2016 pela autora Ann-Helen Laestadius narra o drama de uma jovem de uma comunidade indígena na Suécia perseguida por uma população cheia de ódio e ressentimento. Como a história de todos os povos originários, os sami também têm seu território, tradições e modo de viver roubados. O filme explora temas de identidade, pertencimento e discriminação.
No enredo, Elsa (Elin Oskal) é uma jovem sami cujo sustento de sua família depende da criação e pastoreio de renas. Seu povo tem costumes ancestrais muito definidos de respeito e cuidado com a natureza e conexão com o ecossistema. Eles trabalham de forma muito unida para manter sua comunidade em equilíbrio com o meio ambiente.
Mas logo os problemas raciais se tornam evidentes e Elle Márjá Eira deixa claro que, como os povos nativos da América, os sami também veem suas vidas transformadas pelo capitalismo e globalismo. Os ciclos de opressão se repetem aqui também e os brancos da comunidade fazem questão de separá-los entre ‘nós e eles’, criando estereótipos e os excluindo. As coisas ficam muito tensas e complicadas quando Sami e sua família se veem vítimas de um perseguidor, um homem chamado Robert (Martin Wallström), que assassina a rena branca de Elsa, chamada Nastegallu, de forma fria e cruel. No entanto, as mortes entre as renas do povo de Elsa se tornam sistemáticas, ocorrendo um verdadeiro massacre de animais, ameaçando a sobrevivência da comunidade indígena e o meio ambiente.
Enquanto isso, jovens sami desesperançosos também desistem de suas vidas. Mas Elsa luta em busca de justiça e vingança, já que a polícia não se esforça realmente para solucionar a questão. Sozinha, ela precisa arriscar sua vida para pôr um fim à violência nessa comunidade xenófoba e impune.
Embora seja um filme com uma história extremamente forte e relevante, que coloca o mundo a par de uma situação pouco conhecida fora do território em que acontece, “Herança Roubada”, na Netflix, é limitado por um orçamento pequeno, por um roteiro que não soube valorizar sua profundidade e por atuações amadoras, que nos impedem de alcançar camadas mais densas dos personagens.
Embora Elsa não seja especificamente inspirada em uma pessoa real, a história dos sami é baseada em uma crise generalizada que acontece neste momento no extremo norte da Suécia. Em partes, a história nos lembra do emocionante e brutal “Terra Selvagem”, de Taylor Sheridan, e traz reflexões muito importantes sobre preconceito e identidade, e sobre como estamos destruindo o planeta em que vivemos e exterminando as únicas pessoas que se importam e vivem para proteger a natureza.
Filme: Herança Roubada
Direção: Elle Márjá Eira
Ano: 2024
Gênero: Drama/Suspense
Nota: 8/10