O romance da Netflix que acalmará sua alma e tornará sua semana mais leve Divulgação / Sony Pictures

O romance da Netflix que acalmará sua alma e tornará sua semana mais leve

Não é exagero pensar o amor sob a forma de uma graciosa — e absurda — cornucópia de acontecimentos os mais inexplicáveis a envolver duas pessoas que se encontram, se atraem, repelem-se e se juntam outra vez, num fluxo pleno de enguiços. O espanhol Mateo Gil também percebeu essa obviedade, mas conseguiu fazer de “As Leis da Termodinâmica” uma crônica reflexiva e bem-humorada acerca do que faz com que mulheres e homens, criaturas que habitam universos paralelos que acabam se cruzando em algum ponto da jornada, por motivos mais variados e incongruentes entre si, não raro em circunstâncias em que falta lugar para a verdade.

Manel e Elena, os protagonistas interpretados por Vito Sanz e Berta Vázquez, enfrentam o turbilhão que os puxa e empurra, até que o destino resolve se impor. Com um texto  que preza pelo ritmo, Gil emociona e traz a superfície assuntos que quase sempre são jogados para debaixo do tapete das conveniências, quando não há necessidade das coisas serem assim. 

A estranheza que colhe-nos a todos no momento em que nos flagramos diante de emoções que tornam mais que explícita a inadequação entre o mundo e nossos princípios; a vontade de transformar tudo quanto já existe, sem muita ideia de por onde começar — e, o principal, como —; o inarredável estado de poesia, quase um delírio que vai-nos tomando até não se possa admitir a vida de outro jeito: tudo isso é parte do amor, misterioso e draconiano elo a unir vida e morte por meio de seus caprichos.

Toda graça nasce do amor, e todo amor, por seu turno só pode vir da renúncia, ocasião em que precisamos largar tudo, abandonar os arcaicíssimos hábitos que, de tão arraigados, já nos compõem e nos explicam, e acessar o mais obscuro de nosso espírito, no intuito de apreender o cenário em que estamos nos aprisionando e, assim, verdadeiramente, mudar. O sentimento amoroso é tão sem parâmetro que relações firmes como a rocha que não se abate em sua luta milenar com o oceano ruem num piscar de olhos, às vezes para que a felicidade possa, enfim, instalar-se. 

Gil, um colaborador frequente de Alejandro Amenábar, coloca o físico Manel, um homem que não concebe a vida fora do método, e a modelo Elena, acostumada a figurar como a rainha de Troia nos ensaios de revistas de publicação internacional, se encontram depois do estimulante prólogo em que o diretor dá uma visão panorâmica acerca da ampla fauna humana que os rodeia. O cientista e sua nova musa aproximam-se e se repelem, como se num tango, até que a dureza da realidade se encarrega deles. Gil compõe uma glosa feita de verdades urgentes e doídas a respeito do enamoramento e da vontade de se levar a sério as emoções mais básicas, o que é bem mais difícil do que parece. Como os personagens de Sanz e Vázquez tratam de nos ensinar. 


Filme: As Leis da Termodinâmica 
Direção: Mateo Gil  
Ano: 2018 
Gêneros: Comédia/Romance  
Nota: 8/10