Ficção científica que chegou esta semana à Netflix já é um dos filmes mais assistidos do Brasil Divulgação / Sony Pictures Worldwide

Ficção científica que chegou esta semana à Netflix já é um dos filmes mais assistidos do Brasil

A Guerra Fria (1947-1991) deu azo a uma torrente de filmes, sob vieses os mais diversos, todos replicando em maior ou menor grau, a paranoia de mais de quatro décadas de espionagem, contra-espionagem, ataques a horas mortas, do tão característico morde e assopra da política internacional. “Soldados do Gelo”, a ficção científica do islandês-canadense Sturla Gunnarsson, vai fundo, literal e metaforicamente, no delírio que rege as relações perigosas entre Estados Unidos no começo dos anos 1960, levando a história ao Círculo Polar Ártico, onde um pequeno exército de super-homens nórdicos repousa sob o gelo até o momento de um despertar brusco, com consequências trágicas que se estendem por meio século.

Experiente na concepção desses enredos, Jonathan Tydor, autor de roteiros de sucesso como “O Grande Anjo Negro” (1990), dirigido por Craig R. Baxley e estrelado por Dolph Lundgren, coescrito com David Koepp, exacerba a sensação de desajuste do trio de silenciosos personagens que emergem da frieza de uma vida que se confunde com a morte, sombra de terror que paira também sobre os cientistas americanos que, em 2013, tocam um misterioso projeto que ainda interessa aos russos. É difícil dissociar o filme do primarismo das ideias de Tydor, por óbvio, mas Gunnarsson é capaz de vertê-las em sequências ágeis, cujo propósito essencial é menos defender pontos de vista ideológicos que oferecer entretenimento descartável a admiradores do gênero. 

Os exterminadores do passado voltam ao mundo real depois de uma malfadada expedição em que os pesquisadores buscavam indícios que comprovassem a hipótese de Andrew Malraux, o estudioso do comportamento humano interpretado por Dominic Purcell, uma óbvia referência ao escritor francês André Malraux (1901-1976), de “A Condição Humana” (1933). O primeiro ataque, em outubro de 1962, parece ter deixado um gosto amargo de missão por ser concluída, e passadas cinco décadas, esses assassinos implacáveis e resistentes ao tempo voltam, determinados a reduzir Nova York a pó. O diretor manifesta o objetivo de eliminar qualquer gordura e não se desviar da trama central, o que corta pela raiz a possibilidade de um alívio romântico entre Malraux e Camille Sullivan, a executiva de uma companhia de exploração de petróleo de Jane Frazer. Interditado esse canal, 

nos primeiros trinta minutos, Gunnarsson mantém o andamento da narrativa firme em longas perseguições e mais à frente quebra a monotonia incluindo na narrativa um clube de strip-tease onde os homens do subterrâneo encarnados por Matthew G. Taylor, Gabriel Hogan e Andre Tricoteux aproveitam o calor de dançarinas seminuas. A russofobia de “Soldados do Gelo”, perfeitamente cabível num conto sobre como a Guerra Fria abalou o orgulho americano por algum tempo para além de seu desfecho oficial, em 26 de dezembro de 1991, felizmente perde espaço quando o anti-herói de Purcell encontra TC Cardinal, o caçador nativo americano encarnado por Adam Beach — com quem acaba por dividir uma cela em circunstâncias entre monstruosas e ridículas.  

Com suas tiradas algo megalômanas, típicas de um fanfarrão assumido, TC empresta ao filme um toque cômico à “Um Tira da Pesada” (1984), o besteirol de Martin Brest, manobra inesperada que oxigena o encerramento. Como se disse no início, “Soldados do Gelo” não é para iniciantes. 


Filme: Soldados do Gelo 
Direção: Sturla Gunnarsson 
Ano: 2013 
Gêneros: Ficção científica/Ação 
Nota: 7/10