Comédia romântica na Netflix é perfeita para passar o feriado jogado no sofá debaixo das cobertas Divulgação / Netflix

Comédia romântica na Netflix é perfeita para passar o feriado jogado no sofá debaixo das cobertas

A vida no campo até pode ter seus momentos de idílio, mas, definitivamente, não é para qualquer um. Que o diga Oliwia, a protagonista de “Sem Pressão”, na Netflix, mais uma das comédias românticas que o cinema polonês faz chegar ao mercado. Aqui, Bartosz Prokopowicz fala de assuntos universais sem deixar sua aldeia, muito pelo contrário: enfronha-se um tanto no cotidiano paroquial a fim de frisar as diferenças entre uma mulher ambiciosa, embora lhana, e um homem pacato, muito satisfeito com sua rotina em meio a animais domésticos e pouco mais que o básico para considerar-se feliz.

O roteiro de Karolina Frankowska e Katarzyna Golenia move-se em circunvoluções em torno desses duas figuras, abrindo espaço para mais alguns personagens que orbitam a história validando ora o discurso de sutil panfletarismo de uma, ora o vigor da fantasia do outro, até que, claro, esses mundos paralelos se batam e se acomodem, como se sempre tivessem sido um só.

A humanidade se divide entre os céticos, mas que não deixam de acreditar em milagres — inclusive os que não se materializam nunca — e os cínicos, aqueles que atribuem uma aura de sobrenatural a tudo quanto se passa na Terra. Se viver já parece com uma aventura sem que tenhamos de fazer nada, esse aspecto meio farsesco, até onírico, da vida recrudesce nos momentos em que somos confrontados — primeiro por nós mesmos; não muito depois por quem quer que nos rodeie — acerca do que entendemos como virtude ou vício.

Ninguém tolera ser obrigado a admitir fracassos de qualquer ordem, mal-estar cujo controle pode ser bem-sucedido mirando-se as vantagens futuras de um recuo temporário. Se o homem pudesse ser cristalizado numa imagem, esta seria a de uma coroa, símbolo máximo do poder em sua constituição mais tirânica, emulação imediata da superioridade divina frente à ignorância, à prepotência e ao consequente escombro moral dos homens. Pelo desejo de uma autoridade torta, despropositada, imerecida, indivíduos de todas as origens, sangues, culturas e estratos sociais matam-se uns aos outros, perpetuando a maldição do pecado original.

Oliwia está muito confortável brilhando quieta no caos de um restaurante de luxo até receber a notícia de que Halina, sua avó, morreu. Ela está prestes a encarar um dos grandes desafios da carreira, uma competição entre chefs que pode fazer com que escale o degrau que falta para alcançar o topo. A moça deixa seus muitos afazeres e se despenca para Bodźki, uma pequena vila na Podláquia, nordeste polonês, numa viagem de carro que já principia cheia de contratempos, como o caminhão da companhia de limpeza urbana atravancando toda a rua, e acaba num charco, depois de saber que Halina está mais viva do que jamais esteve, e tudo não passou de um plano orquestrado pela personagem de Anna Seniuk para fazer com que a neta, há anos sem vê-la, retornasse a sua cidadezinha natal. 

Prokopowicz conduz esse longo introito de modo a convencer o espectador a admitir a natureza farsesca da história, mesmo depois de Oliwia conhecer o fazendeiro Kuba e até no momento em que se esclarece o mal-entendido que sustenta boa parte da trama. A química entre Anna Szymańczyk e Mateusz Janickidobra a banalidade do enredo, assim como a fotografia ao destacar os vários tons de amarelo daquele vilarejo da Polônia. Sentimo-nos plenos, e num filme como esse é tudo quanto importa.


Filme: Sem Pressão
Direção: Bartosz Prokopowicz
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10