Últimos dias para assistir ao drama ganhador do Oscar que consagrou Julia Roberts, na Netflix  Divulgação / Universal Pictures

Últimos dias para assistir ao drama ganhador do Oscar que consagrou Julia Roberts, na Netflix 

Embora as sociedades muitas vezes não dependam de figuras heroicas, os indivíduos que enfrentam o cotidiano árduo — pagando contas, cuidando da família, sofrendo em silêncio frente a desigualdades, e enfrentando uma velhice isolada para evitar novas humilhações — aspiram por figuras que possam representar uma mudança. A personagem Erin Brockovich, interpretada magistralmente por Julia Roberts no filme dirigido por Steven Soderbergh, exemplifica isso. Inicialmente em busca de qualquer posição remunerada, com carteira assinada ou não, Erin encarna a luta contra adversidades cotidianas antes mesmo de se imaginar como salvadora de outros. 

Erin, uma aprendiz autodidata, era merecedora de uma oportunidade no escritório do Dr. Jaffe, interpretado por David Brisbin. Seu conhecimento abrangente, desde a análise da consistência do muco até a coloração anormal da urina de crianças doentes, além de uma familiaridade com materiais de construção modernos, são apenas prelúdios de sua astúcia que se revelará mais adiante, especialmente na “geologia”, uma área que ela associava, de maneira simplista, aos mapas. Gradativamente, a personagem de Roberts, inicialmente loquaz, conquista o público com seu carisma inato. Interpretando uma anti-heroína, Roberts desafia estereótipos de beleza, utilizando suas características físicas — como o sorriso deslumbrante e o nariz arrebitado — para realçar a força de sua atuação, celebrando mais de vinte anos de carreira reconhecida por papéis que frequentemente misturam virtude e falhas morais. 

A história de Erin e a de Vivian Ward, a protagonista de “Uma Linda Mulher”, interpretada também por Roberts em um filme dirigido por Garry Marshall, contrastam em suas trajetórias e aspirações, mas ambas compartilham uma determinação férrea. Enquanto Vivian não abdica de sua dignidade, Erin, por sua vez, não possui sonhos grandiosos, mas acaba alcançando realizações significativas. 

Desde o início, a vida de Erin é definida pela escassez financeira, impactando profundamente seus três filhos, que vivem sob a sombra constante da privação. Uma trama secundária introduz Erin em um contexto judicial, onde ela é acusada de uma dívida substancial que não pode pagar. Contudo, é neste cenário que Erin, interpretando uma cliente de Ed Masry, papel de Albert Finney, demonstra sua destreza. A dinâmica entre Masry e Erin, embora inicialmente tensa, evolui para uma parceria frutífera, culminando quando Erin descobre documentos negligenciados que mudam o curso de uma ação judicial contra a PG&E. Esta empresa, responsável pelo fornecimento de serviços básicos na Califórnia, é retratada no filme como envolvida em corrupção contínua. 

O interesse romântico de Erin por George, vivido por Aaron Eckhart, embora instável, ganha torcida do público. Profissionalmente, Erin, mesmo sem formação superior, auxilia Masry a obter uma indenização recorde de 333 milhões de dólares para as vítimas da negligência da PG&E, com a contaminação da água por cromo-6 resultando em inúmeros casos de câncer. Erin, com uma parte significativa da indenização, segue adiante, marcando seu lugar na história. 


Filme: Erin Brockovich — Uma Mulher de Talento 
Direção: Steven Soderbergh 
Ano: 2000 
Gêneros: Drama/Romance 
Nota: 9/10