O melhor filme argentino dos últimos 2 anos está na Netflix e você não assistiu Divulgação / Netflix

O melhor filme argentino dos últimos 2 anos está na Netflix e você não assistiu

A excelência e diversidade do cinema argentino encontram novo exemplo em “O Suplente”. Após sua estreia aclamada em Toronto e sucesso em San Sebastián, Diego Lerman nos traz uma obra que desafia as convicções sociais vigentes, explorando as disparidades sociais globais através da lente de experiências pessoais e cotidianas, repletas de peculiaridades. O filme nos convida a olhar para o ambiente escolar como um microcosmo da sociedade, onde visões utópicas e realidades divergentes se entrelaçam, distanciando-se de simplificações e abrindo espaço para a complexidade das relações humanas. Neste contexto, a poesia emerge como uma força unificadora, prenunciando a ascensão de um protagonista improvável.

A narrativa, coescrita por Lerman e colaboradores, ecoa o francês “Sementes Podres” (2018), onde a comédia se mistura com temas de redenção juvenil. Contudo, “O Suplente” se aprofunda na seriedade de seus temas. Juan Minujín interpreta Lucio Garmendia, um educador cujo desafio é incutir o amor pela literatura em estudantes desiludidos, rompendo barreiras hierárquicas para mergulhar nas realidades de uma escola marginalizada em Buenos Aires. Lerman constrói seu filme sem desperdiçar um gesto ou palavra, inaugurando com uma cena que prepara o espectador para uma jornada de introspecção e confronto com o fracasso.

“O Suplente” entrelaça tramas secundárias que enriquecem a trajetória de Lucio, apresentando um herói relutante que, apesar dos desafios, mantém sua fé na transformação. A personificação do professor, reminiscente de Chaplin, revela um homem destinado a enfrentar adversidades, sendo a sala de aula apenas o início de suas provações. Fora das paredes acadêmicas, Lucio se divide entre a responsabilidade para com seu pai doente, sua filha depressiva e a ex-esposa, encontrando um vínculo genuíno com a sua missão ao conhecer Dilan, um jovem traficante com o coração de um poeta.

O clímax do filme não oferece reviravoltas dramáticas para Lucio, mas o retrata como um eterno substituto, cuja presença em várias vidas nunca o desvanece, apesar das tempestades internas e externas. Ele permanece, ao final, uma figura melancólica e reflexiva.


Filme: O Suplente
Direção: Diego Lerman
Ano: 2022
Gênero: Drama
Nota: 9/10