Filme de mistério baseado em best-seller que vendeu 22 milhões chega à Netflix Divulgação / Lotus Entertainment

Filme de mistério baseado em best-seller que vendeu 22 milhões chega à Netflix

Em geral, americanos se saem muito bem quando usam o cinema para expor suas fragilidades. Assuntos espinhosos como racismo, sexo, drogas, as perenes iniquidades hipócritas do jeito de viver propagado pela nação mais democrática do planeta — e, também por isso, a mais complexa — costumam vir à baila com toda a virulência, o que nem de longe afasta o público, pelo contrário: quanto mais coragem um diretor usa na elaboração de um argumento ingrato, mais o espectador sente-se compreendido, abraçado, certo de que suas dores não são só suas.

A história por trás de “Criminosos de Novembro”, na Netflix, não é muito diferente do sofrimento que famílias de todo o mundo passam devido ao súbito mau comportamento de seus filhos, mas Sacha Gervasi é capaz de dar um verniz sociológico orgânico, sem que o enredo derive para nenhum gênero de proselitismo.

O inventivo roteiro de Gervasi, Steven Knight e Sam Munson dosa com um equilíbrio cartesiano os imbróglios juvenis de um anti-herói maldito, porém encantador em sua fragilidade, com a obsessão perigosa que nutre em torno de um crime que o abala até mais que uma tragédia íntima recente, constatação que o escandaliza e o fortalece.

Na introdução, Addison Schacht registra suas impressões sobre a morte da mãe, vitimada por um aneurisma na flor da idade. Do pouco sentido que se pode depreender de suas palavras, o fato de considerar ter ficado “muito bom em fingir que está bem” é de um cinismo esclarecedor e pungente, o que não deixa de revelar muito acerca do personagem.

Ansel Elgort, um dos grandes talentos da sua geração, encarna esse doce garoto-problema a partir de uma interpretação corajosa, em que cresce para além do tamanho do filme, colocando a nu o que Addy tem de mais delicado sem se esquecer de realçar a potência de uma índole mercurial e espantosamente autopreservadora, malgrado os episódios que se desdobram no segundo ato tendam a desmentir essa percepção.

A amizade com Phoebe, a patricinha boa gente de Chloë Grace Moretz, é um dos raros alívios de uma existência que parece sempre por um fio, até que, numa manhã pacata em Washington, os dois resolvem tomar o café da manhã na padaria Seven Stars, onde Kevin Broadus, o balconista vivido por Jared Kemp, trabalha. Pouco depois, sua vida sofrerá uma mudança para qual talvez não estivesse preparado. Mas ele a encara assim mesmo.

Kevin é assassinado passados alguns minutos, enquanto os personagens de Elgort e Moretz resolviam seus destinos sexuais em comum no velho Alfa Romeo vermelho dele. Quando fica sabendo, pelo bip que o pai lhe dera, que Kevin, de que era amigo fora morto, tem início a caçada com que Addy passa a justificar a vida que tinha por sem graça e sem razão. Gervasi preserva as notas de desgraça do romance policial homônimo de Munson, publicado em 2010, dando uma chance a seu anti-herói. O que nem de longe fica com cara de improviso.


Filme: Criminosos de Novembro 
Direção: Sacha Gervasi
Ano: 2017
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 9/10