Aplaudido de pé por 5 minutos em Cannes, drama com Matt Damon, na Netflix, é jornada de superação e resiliência Jessica Forde / Focus Features

Aplaudido de pé por 5 minutos em Cannes, drama com Matt Damon, na Netflix, é jornada de superação e resiliência

Diz o ditado que a justiça tarda, mas não falha. No caso do sistema de Justiça, pode tanto tardar quanto falhar. Já o carma parece escolher, cor, sexo, credo e classe social. Tem muita gente vestida em suas armaduras de privilégios, enquanto outros sofrem consequências grandes demais, incompatíveis com seus erros.

O caso de Amanda Knox, uma estudante norte-americana presa na Itália pelo assassinato de uma mulher é um enigma que até hoje não foi solucionado. Para os parentes da vítima, o sistema de Justiça falhou. O verdadeiro culpado pela sua morte nunca foi punido. Quem? Ninguém sabe ao certo. Amanda Knox foi condenada a 26 anos de prisão em 2007, mas depois de algumas análises de DNA, um analista forense norte-americano mostrou que as provas não eram suficientes para culpar Amanda e ela acabou absolvida pela Suprema Corte, em 2016.

Amanda escreveu um livro contando sua história. Seu nome deu título a um documentário da Netflix. Além disso, um longa-metragem estrelado por Matt Damon e Abigail Breslin, inspirado nesses acontecimentos, foi filmado e lançado em 2021. “Stillwater: Em Busca da Verdade” é inspirado no caso de Amanda. Mas há várias escolhas que o diretor e roteirista Tom McCarthy fez para desvencilhar ficção da realidade.

Matt Damon é Bill, viúvo e trabalhador que acaba de ser demitido após uns erros de seu passado virem à tona. Sua filha, Allison (Breslin), é uma estudante universitária que vive em Marselha, na França, onde está presa há cinco anos, condenada pelo assassinato de Lina, sua namorada morta. Ainda faltam alguns anos de pena antes que ela possa retomar sua liberdade. Mas ela garante que nunca fez mal à Lina e que um homem misterioso, chamado Akim (Idir Azougli), é o verdadeiro criminoso. O problema é que ninguém sabe do paradeiro do rapaz. As pessoas sequer acreditam que ele existe de verdade. Então, Bill está decidido a se mudar para a França até conseguir ajudar sua filha a provar sua inocência.

Durante seu calvário para limpar o nome de Allison, Bill conhece a atriz Virginie (Camille Cottin), mãe de Maya (Lilou Siauvaud) e uma mulher solteira e prestativa que se propõe a ajuda-lo e sua filha em apuros. Tom McCarthy não segue nenhuma regra e deixa sua imaginação fluir neste filme que não é biográfico, mas uma ficção inspirada em fatos reais. Bill rapidamente se conecta com Virginie, com quem acaba desenvolvendo um romance, e especialmente com Maya, uma garotinha cuja amizade é um bálsamo para o coração partido dele.

Com ajuda de Virginie, ele investiga os passos de Allison naquela fatídica noite do crime e descobre o paradeiro de Akim. Mas seus passos o conduzirão a uma encruzilhada moral. Bill terá de escolher o que é mais importante: provar a inocência de sua filha para vê-la livre ou simplesmente encontrar um culpado para assumir possíveis erros de Allison.

Bill é um personagem contraditório. Ele tenta enterrar seu passado conturbado e se redimir no presente, seguindo um perfil aparentemente conservador e cristão. No entanto, sua fachada de vidro está prestes a ser quebrada quando a vida exige medidas drásticas demais para proteger a quem ele ama. Bill é um perfil muito real e humano de pessoa que quer pregar a moralidade, mas não é o melhor exemplo dela. Enquanto isso, aprende com Allison que às vezes é melhor aceitar o destino e encontrar paz com quem se é de verdade. O discurso pode pender para o obscuro, dependendo da interpretação que se faz do filme.


Filme: Stillwater: Em Busca da Verdade
Direção: Tom McCarthy
Ano: 2021
Gênero: Drama/Suspense
Nota: 8/10