Candidato ao Oscar, história real da Netflix é o filme mais visto do mundo na atualidade (em 137 países) Quim Vives / Netflix

Candidato ao Oscar, história real da Netflix é o filme mais visto do mundo na atualidade (em 137 países)

“A Sociedade da Neve”, dirigida pelo cineasta catalão J.A. Bayona, reconta a história da queda do voo 571 da Força Aérea Uruguaia nos Andes em 1972. Este evento, que já foi abordado em várias produções cinematográficas, é revisitado com uma abordagem visceral e detalhista, destacando-se pela capacidade de Bayona em evocar emoções intensas através de sua direção.

O filme nos leva diretamente ao coração da tragédia, começando com o impacto devastador do acidente. A representação gráfica do desastre é um dos pontos altos da produção, com uma direção de fotografia assinada por Pedro Luque Briozzo Scu, que habilmente utiliza uma paleta de cores frias para retratar o ambiente hostil e a situação desesperadora dos sobreviventes. A escolha estética, que oscila entre o azul gélido e o branco ofuscante da neve, cria uma atmosfera de melancolia e desespero.

Além da direção de arte impressionante, o roteiro de Nicolás Casariego Córdoba, Jaime Marques-Olearraga e Bernat Vilaplana, baseado no livro de Pablo Vierci, oferece uma perspectiva íntima e humanizadora dos envolvidos no desastre. Antes de se tornarem vítimas de uma das maiores tragédias aéreas da história, esses indivíduos eram pessoas com sonhos, famílias e aspirações, uma realidade que o filme não deixa de explorar. A narração se aprofunda nas histórias pessoais dos passageiros, com destaque para a figura do capitão do time de rúgbi Roberto Canessa e a trajetória de Numa Turcatti, cuja resistência moral e física é retratada de maneira tocante.

Uma decisão polêmica, e talvez o aspecto mais difícil de digerir do filme, é a abordagem do canibalismo. Bayona opta por uma representação subjugada desse aspecto, evitando retratá-lo de forma explícita. Essa escolha pode ser vista tanto como um gesto de respeito às sensibilidades do público quanto uma possível falha em confrontar a realidade crua da situação vivida pelos sobreviventes.

“A Sociedade da Neve” também se destaca pela edição, comandada por Jaume Marti e Andrés Gil, que mantém o ritmo da narrativa, especialmente nas cenas do acidente. Apesar de algumas críticas sobre a falta de novidade na abordagem do tema, a competência técnica e a sensibilidade na direção fazem deste filme uma obra que merece atenção, tanto pela qualidade cinematográfica quanto pelo impacto emocional que provoca no espectador.

“A Sociedade da Neve” é uma produção que, apesar de revisitar um tema já conhecido, consegue oferecer uma nova perspectiva sobre a tragédia, focando nas histórias humanas por trás do desastre e na habilidade do diretor em criar um ambiente visualmente arrebatador e emocionalmente envolvente. É um filme que, certamente, deixa sua marca no espectador, tanto pela habilidade técnica quanto pela profundidade emocional.


Filme: A Sociedade da Neve
Direção: J.A. Bayona
Ano: 2023
Gênero: Drama
Nota: 9/10