Adaptado de best-seller que vendeu 25 milhões de cópias, comédia romântica na Netflix vale cada segundo Divulgação / Twentieth Century Fox

Adaptado de best-seller que vendeu 25 milhões de cópias, comédia romântica na Netflix vale cada segundo

Quem nunca se sentiu aborrecido com sua própria cara — especialmente num determinado período da vida em que tudo parece fora de lugar — pode ter se privado de algumas vivências ruins, mas decerto não pôde descobrir muito sobre si mesmo. “Monte Carlo”, o conto de princesas da vida real de Thomas Bezucha, dispõe de todos os clichês dessas histórias, e, depois de muitas voltas, chega aonde pretende, mérito de um elenco pensado para satisfazer desejos nada racionais.

Bezucha foi sofisticando seu repertório, até chegar a resultados superiores a exemplo de “Deixe-o Partir” (2020), adaptação do romance homônimo do americano Larry Watson publicado em 2013 pela Milkweed Editions sobre um casal de meia-idade que tenta viver sem o filho, ou mesmo o roteiro de “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata” (2018), dirigido por Mike Newell, mas enquanto isso, treinava o domínio da linguagem cinematográfica nos desarranjos adolescentes feito o retratado por Jules Bass (1935-2022) em “Headhunters” (2001). O filme de Bezucha até parece mesmo uma das animações pelas quais Bass tornou-se famoso, repletas de personagens planos num enredo maniqueísta, sem tanto espaço para circunvoluções retóricas. Diversão instantânea e sem maiores riscos.

Grace está concluindo o ensino médio enquanto faz um bico de garçonete num diner perto de casa, depositando ao longo de quatro anos toda a gorjeta que recebe num imenso pote de vidro, esperando que essas economias permitam-lhe conhecer Paris em breve. O dia da formatura chega, afinal, e como por encanto, ela tem todo o dinheiro de que precisa para ir à Cidade Luz — lembre-se: esta é uma comédia romântica adolescente —, contando com a ajuda do padrasto, Robert, para viajar de primeira classe, desde que concorde em levar consigo a meia-irmã, Meg, filha do personagem de Brett Cullen. O plano original era dividir a experiência apenas com Emma, a moça com quem trabalhara na lanchonete, seis anos mais velha, mas a oferta de Robert é tentadora demais, e ela cede.

As três enfrentam suas diferenças, com Meg sempre disposta a evidenciar as diferenças sobre as outras duas, num movimento retilíneo de Bezucha e seus três corroteiristas para resolver logo os conflitos que vêm na sequência, quando o trio descobre que Grace tem uma sósia esnobe, patologicamente autocentrada e podre de rica, com a qual Meg e Emma ficam lado a lado, diante do espelho, num banheiro público. Essa é a oportunidade que a protagonista vinha perseguindo desde criança, sem, claro, atentar para o perigo da brincadeira.

O terceiro gira em torno de usurpação da identidade de Cordelia Winthrop-Scott, a milionária descrita acima, por Grace, ambas interpretadas por Selena Gomez. Resta sugerido que a versão pobre de Gomez topa o jogo mais por farra, mas incentivada por Meg, de Leighton Meester, e Emma, começa a esticar a corda, até que termina furtando um colar de ouro branco, safiras e brilhantes, que pretende colocar em leilão na Tiffany no último de dia do passeio, por uma causa benemerente. A ex-heroína da Disney se sai bem na pele da mocinha e da vilã, mas o tipo encarnado por Katie Cassidy pareceu-me muito mais gracioso, com a licença do trocadilho, num filme em que os rapazes, bonitos e atléticos, nunca deixam de estar a reboque das donzelas. Mas, para ser sincero, eles nem fazem falta.


Filme: Monte Carlo
Direção: Thomas Bezucha
Ano: 2011
Gêneros: Comédia/Romance 
Nota: 7/10