O filme ignorado que vale a assinatura da Netflix, mas você não assistiu Divulgação / Netflix

O filme ignorado que vale a assinatura da Netflix, mas você não assistiu

O filme “O Mistério de Block Island” (2020) é uma obra que desafia convenções, tecendo uma narrativa em que personagens complexos e ambíguos assumem papéis centrais. Tais figuras refletem uma humanidade crua e realista, distanciando-se da idealização heroica que frequentemente permeia o cinema. Esses personagens são atraentes aos olhos do espectador por sua capacidade de perturbar o status quo, revelando verdades muitas vezes veladas no cotidiano. Eles pensam de forma independente, correndo riscos e desafiando normas estabelecidas, o que os torna particularmente fascinantes.

Os irmãos Kevin e Matthew McManus, diretores do filme, constroem uma história que se desdobra em várias camadas, mantendo o espectador em constante estado de incerteza e expectativa. Eles utilizam subtramas intricadas que se acumulam, criando uma sensação de complexidade e profundidade inigualáveis. Através dessa estratégia, os McManus capturam a atenção do público, conduzindo-o por um labirinto narrativo de eventos imprevisíveis e personagens profundamente humanos.

No cerne desta narrativa está Harry, interpretado por Chris Sheffield, um personagem cuja sanidade mental é posta à prova diante das teorias conspiratórias de Dale, vivido por Jim Cummings. Harry emerge inicialmente como uma voz de razão em um universo de caos. No entanto, à medida que a trama se desenvolve, ele começa a apresentar sinais de desequilíbrio, refletindo as tensões e os conflitos do enredo. Esse arco dramático evidencia o talento dos McManus em desenvolver personagens multidimensionais.

A trama de “O Mistério de Block Island” explora temas como a fragilidade da mente humana e o impacto ambiental. A deterioração mental do pai de Harry, inicialmente percebida como sonambulismo inofensivo, evolui para algo mais sinistro, espelhando as crises ambientais que afetam a ilha. Peixes mortos, pássaros com comportamento anormal e gatos doentes formam um mosaico de desastres naturais que refletem a desordem mental do protagonista.

O filme também aborda a questão do abuso em suas várias formas, seja ele físico, mental ou ambiental. Os McManus utilizam essas situações para criar uma série de simbolismos que capturam a atenção do espectador. Estes elementos, embora não totalmente resolvidos, servem como uma metáfora poderosa para os temas mais amplos explorados pelo filme.

O ponto alto de “O Mistério de Block Island” é a forma como os diretores interligam a degradação ambiental e a deterioração psicológica de Harry. A narrativa sugere que as crises ambientais são um reflexo do estado mental dos personagens, especialmente de Harry. Sua visão catastrófica do mundo ao seu redor é uma representação simbólica do colapso das estruturas tanto físicas quanto metafísicas da sociedade.

Em uma abordagem inovadora, os McManus optam por um terror psicológico mais sutil, evitando clichês comuns do gênero, como monstros e zumbis. Eles se concentram no horror implícito em transtornos como sonambulismo, amnésia e delírios. A desintegração mental, exemplificada na sequência final, é um resumo poderoso da mensagem que os diretores pretendem transmitir ao longo do filme.


Filme: O Mistério de Block Island
Direção: Kevin e Matthew McManus
Ano: 2020
Gêneros: Terror/Ficção científica
Nota: 9/10