Recordista de bilheteria, filme que faturou 1,2 bilhão de dólares acaba de chegar à Netflix Matt Kennedy / Universal Pictures

Recordista de bilheteria, filme que faturou 1,2 bilhão de dólares acaba de chegar à Netflix

Em 1989, Dominic Toretto disputou o título que daria novo impulso a sua carreira, mas embora pense que a temporada está ganha, o destino não está a seu favor. Há óleo na entrada da curva dois, o carro 23 ameaça ultrapassá-lo e Kenny Linder, um velho rival, está de volta. Todas essas seriam razões para temer uma derrota humilhante; contudo, também o fracasso chega sem prévio aviso e não se sujeita a nenhum humano desejo.

Antes de expor o começo da derrocada do protagonista, “Velozes e Furiosos 8” prepara o terreno da forma mais luminosa possível, banhando Dom e sua gente com o sol do Caribe. F. Gary Gray tem estrela. O diretor, vindo de uma excelente fase depois de “Straight Outta Compton: A História do N.W.A.” (2015), drama biográfico sobre a ascensão dos pioneiros do movimento hip hop nos Estados Unidos, conseguiu, de um só golpe, refrescar o enredo e faturar mais de 1,25 bilhão de dólares, uma marca notável sob qualquer ponto de vista.

Quais poderiam ser os mistérios por trás de uma história já surrada, fora uma ou outra adaptação tópica? O elenco sem dúvida é o maior deles, e aqui, Vin Diesel lidera talentos de calibres variados, mas prontos para superar os tantos desafios de um trabalho eminentemente físico, mas que, por óbvio, precisa transcender o movimento. Não é pouco. 

Dom parece cansado de trabalhar com sua “família”, vocábulo de que os roteiristas Chris Morgan e Gary Scott Thompson lançam mão algumas vezes, e se alia a Cipher, a vilã igualmente plana e ambígua de Charlize Theron. Seus subordinados acusam o golpe e vão atrás dele, mas o corredor mais talentoso da América não quer saber de amolação e leva seu Challenger vermelho para sentir a brisa amena de Havana. Junto com ele, vai, claro, Letty, a fiel escudeira, e como um Dom Quixote já seguro de ter sua Dulcineia ao lado, os dois não manifestam temor de rigorosamente nada. Gray coloca Diesel e Michelle Rodriguez em meio a cenários estonteantes, aproveitando para garantir o punch do filme já nesse segmento, com o protagonista disputando um pega pelas ruas estreitas da capital cubana na intenção de defender a honra (e o carro) do meio-irmão, Fernando, de Janmarco Santiago, contra Raldo, o tipo igualmente marginal interpretado por Celestin Cornielle. Ele vence a corrida, recusa o prêmio, é ovacionado pelo contendor e torna-se uma espécie de lenda viva junto a figurantes com silhuetas rijas demais para serem nativos da Ilha. Até que o destino se faz apresentar, de novo. 

Dom e Cipher têm as contas a ajustar que culminam no longa seguinte, mas enquanto essa hora não chega, Diesel e Theron protagonizam bons embates, primeiro no calor da América Central, depois num lago tomado de gelo na Sibéria, momento em que a computação gráfica da equipe coordenada por Mark Gullesserian faz jipes blindados irem pelos ares com a manobra de emersão de um gigantesco submarino.

A novidade em “Velozes e Furiosos 8” é conhecida há, pelo menos, dezesseis anos, desde a estreia da franquia, mas o encerramento, com Dom, Letty e sua estranha grei no terraço de um prédio de apartamentos em Nova York me inspirou um sorriso. Apesar de saber que o que vem depois não é nada auspicioso. 


Filme: Velozes e Furiosos 8
Direção: F. Gary Gray
Ano: 2017
Gêneros: Ação/Crime
Nota: 8/10