Comédia romântica que acaba de estrear na Netflix é o antídoto para toda a solidão, tristeza e mau humor

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Os sonhos parecem aflorar todos ao mesmo tempo num determinado período do ano, entre a derradeira semana de novembro e a que inaugura janeiro. Nesse intervalo, maturamos os desejos que verdadeiramente têm valor, refletimos sobretudo quanto quisemos alcançar, passou por entre nossos dedos e se foi para nunca mais, nos lamentamos por esses fracassos, mas redobramos a atenção para os sucessos que, teimosos, ainda pairam no horizonte, só esperando que tomemos posse do que a vida nos está destinando.

Em “Ajudante de Natal”, uma mulher resoluta persegue um objetivo modesto aos olhos de uma cidade, mas sua própria razão de viver, e por esse motivo não passa-lhe pela cabeça desistir em nenhum momento. As contingências natalinas são uma espécie de obsessão para T. W. Peacocke. Em seu sexto filme sobre os acasos, desencontros, venturas e revelações que tomam forma na vida de gente comum nos últimos dias antes da data mais esperada para quase todos, Peacocke reedita algumas das concepções mais gerais que se pode ter a respeito do que, de fato, vem a ser o Natal, com seus defeitos de origem e suas expectativas frustradas, que tornam-no, por paradoxal que soe, um símbolo da esperança imorredoura.

Molly Frost passa a vida a quebrar ovos, bater massas, polvilhá-las com farinha, açúcar e canela, esperar que assem e repetir todo o processo uma dezena de vezes, até que travessas e mais travessas fiquem preenchidas. No Natal, porém, sua jornada aumenta o dobro, o triplo, o que ela acha simplesmente glorioso. A banqueteira que dá vida ao roteiro de Cara J. Russell faz muito do que apenas torcer para seu Menu Mágico dê certo; ela trabalha duro, sem folga, lutando por uma boa clientela, e quando a conseguir, terá início um outra fase de sua carreira, na qual deverá empenhar todo o cuidado para prestar o melhor serviço, ou se afundar de vez.

A beleza de Merritt Patterson e seus grandes olhos expressivos transmitem muito da angústia dessa profissional, e entre um e outro sorriso, Molly deixa que o espectador partilhe de suas aflições, até das inseguranças amorosas, quando Christina, a amiga e sócia interpretada por Melanie Leishman, aconselha que tire Phil, o ex-namorado da cabeça. Sua grande chance de matar dois coelhos num só golpe aparece quando vence a concorrência dos irmãos Bradford e é chamada a coordenar um jantar beneficente na mansão da maior filantropa da cidade. E então é obrigada a lidar com enroscos de outra natureza.

A partir do segundo ato, o filme de Peacocke ganha esse dinamismo, com os personagens — Molly sobretudo, mas não só — desnudando suas fraquezas, suas mesquinharias, suas dores. Jean Harrison, a anfitriã vivida por Rosemary Dunsmore, vai abandonando a armadura de gelo, feita para esconder um sentimento do qual parece se envergonhar, e quando isso finalmente acontece, reconhece o gosto do doce preparado pelo avô há mais de meio século, recriação de Molly. Seu sobrinho, Carson, por seu turno, nunca está à vontade na própria pele, achando mais conveniente abdicar da fotografia para cuidar da fundação de Jean, até que Molly entra em seu radar.

O romance dos dois, claro, não engata de primeira — devido à insegurança da mocinha de Patterson, que só resiste porque Carson não tem o menor controle sobre a própria vida. Como um legítimo milagre de Natal, Carson, com Daniel Lissing num bom momento, toma a decisão de sua vida, muito mais fácil do que ele imaginara. E o amor, como o Bom Velhinho, mostra que existe.


Filme: Ajudante de Natal
Direção: T. W. Peacocke
Ano: 2022
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10