Na Netflix, o filme perfeito para desligar o cérebro, esquecer os problemas e simplesmente relaxar Divulgação / Paramount Pictures

Na Netflix, o filme perfeito para desligar o cérebro, esquecer os problemas e simplesmente relaxar

“Baywatch: S.O.S. Malibu” não tem nada de mais e, ao mesmo tempo, cativa, diverte, até emociona — ou seja, dentro de alguns anos, entrará na categoria dos clássicos, exatamente como se deu com aquele seriado de televisão de que dez entre dez garotos crescidos ao longo da década de 1980 se lembram com carinho. Idealizada por Michael Berk, Douglas Schwartz e Gregory J. Bonann, “S.O.S. Malibu” (1989-2001), sucesso de público e crítica, febre mundial por onze temporadas e hoje cult, é uma inspiração mais do que óbvia para Seth Gordon, que, valendo-se do texto a cargo de um batalhão de roteiristas, traz de volta a magia das areias de Malibu, cidadezinha a oeste de Los Angeles, Califórnia, apenas transpondo as filmagens para praias da Flórida e da Geórgia, que aqui ganham a denominação fictícia de Emerald Bay, nome do balneário paradisíaco que inclui uma angra onde o sol tinge o mar com a cor das esmeraldas mais selvagens e preciosas. A despeito dessa ligeira confusão geográfica, detectável somente por olhos treinados, o trabalho de Gordon sai melhor que a encomenda, indo muito além de um remake burocrático.

A placidez de uma cadeira de salva-vidas ao anoitecer feito dos marrons e dourados que a fotografia de Eric Steelberg oferece um belo contraponto ao andamento frenético de “Baywatch: S.O.S. Malibu” visto já na sequência imediatamente posterior. O tenente Mitch Buchannon observa a preamar enquanto um homem numa prancha de kitesurfe se aproxima perigosamente da linha da água na altura dos corais. Sem pensar duas vezes, Mitch atira-se ao oceano proceloso, resgata o aventureiro desavisado e presta-lhe os primeiros socorros, nada menos do que seu ofício lhe exige.

Esse Batman mais “moreno”, como lhe diz o acudido, é só outro das dezenas, talvez centenas, de banhistas que o salva-vidas mais popular da costa oeste dos Estados Unidos arrancou dos braços de Poseidon e fez voltar à vida, o que lhe confere a aura de popstar (ou de mito) que não tem nenhum pejo de ostentar. O diretor se atém ao cotidiano da praia sem descuidar de seu protagonista, e Dwayne “The Rock” Johnson incorpora à perfeição a aura de uma espécie de guardião profano daquele pedaço de litoral, muito senhor de seu território, replicando a imagem construída por David Hasselhoff. 

A serenidade dessa extensa abertura prepara a narrativa para suas subtramas com graus de tensão inversos, mas complementares. O exame de admissão para novos salva-vidas junta Ronnie, o nerd que abandonara o mundo das startups de tecnologia para viver mais perto do que julga sua verdadeira essência interpretado por Jon Bass; Matt Brody, o tricampeão olímpico de natação de Zac Efron; e Summer, de Alexandra Daddario, uma beldade de olhos quase tão translúcidos quanto a massa aquática que os cerca.

Supervisionando-os, além de Mitch, contam-se Stephanie Holden, vivida por Ilfenesh Hadera; e Casey Jean Parker, a boa e velha CJ, com Kelly Rohrbach honrando o legado de Pamela Anderson com as memoráveis corridas em câmera lenta que o roteiro saborosamente autoironiza. Um mal explicado homicídio põe o núcleo de mocinhos primeiro num necrotério, com direito a blagues escatológicas francamente prescindíveis, e, no encerramento, no baile de gala num iate luxuoso Brody arrisca o bronzeado a fim de desmascarar uma quadrilha de traficantes de flakka, droga sintética que tem feito estragos entre a juventude de Emerald Bay.

Uma cena de luta entre Mitch e o sargento Ellerbee de Yahya Abdul-Mateen II, no quarto cor-de-rosa de uma criança (!) liga o nonsense politicamente incorreto do seriado exibido pela NBC à atualidade do segmento final, com Victoria Leeds, a vilã encarnada por Priyanka Chopra Jonas ganhando o destaque merecido. Anderson recebe uma homenagem digna quando da resolução do conflito central e, na sequência pós-créditos, emulando aquele hábito tão datado (e saudoso) de publicizar os erros de gravação, Hasselhoff contracena com The Rock, recordando os tempos em que garotas de maiô na televisão eram… apenas garotas de maiô na televisão.


Filme: Baywatch: S.O.S. Malibu
Direção: Seth Gordon
Ano: 2017
Gêneros: Ação/Comédia
Nota: 8/10