“Extraordinário” (2017), dirigido por Stephen Chbosky, apresenta uma profunda exploração dos traumas da infância, oferecendo um retrato impactante das descobertas de um jovem extraordinário, que enfrenta desafios além do seu mundo peculiar. O filme, baseado no romance homônimo de R.J. Palacio, nos leva a acompanhar a jornada de August Pullman em um momento crucial de sua vida. Nascido com uma rara anomalia congênita que afeta o desenvolvimento de órgãos e causa deformidades faciais, Auggie enfrentou desde o início inúmeras cirurgias e procedimentos terapêuticos, o que o forçou a uma luta constante pela sobrevivência. No entanto, a beleza de sua história está prestes a ser revelada.
R.J. Palacio afirmou que a inspiração para o livro veio de um encontro em uma sorveteria, onde ela viu uma criança com características semelhantes às de Auggie. No entanto, é evidente que a autora também pode ter se inspirado na trágica história de Roy Lee Dennis (1961-1978), apelidado de Rocky, que faleceu aos dezessete anos devido a complicações da displasia craniodiafisária, uma condição que envolve o acúmulo anormal de cálcio no crânio, levando a problemas de visão e audição. A história de Rocky, retratada no filme “Marcas do Destino” (1985) por Peter Bogdanovich, é mais dramática do que a de Auggie e revela as dificuldades que uma pessoa como Rocky enfrentou em uma época de transformações sociais e culturais.
No filme de Chbosky, Auggie é uma criança que encara a vida com uma leveza singular, principalmente porque é amado incondicionalmente por sua mãe, Isabel, interpretada por Julia Roberts. Ela está disposta a sacrificar sua carreira como ilustradora de livros infantis e seu projeto de tese de mestrado para educar Auggie em casa. A decisão de enviar Auggie para uma escola regular é tomada por Isabel, apesar das preocupações de Nate, o pai de Auggie, vivido por Owen Wilson. A dinâmica entre Roberts e Wilson é cativante, mesmo quando divergem em relação à educação de Auggie. O filme também explora a jornada de Olivia, a irmã mais velha interpretada por Izabela Vidovic, que lida com sentimentos de ressentimento por ser frequentemente deixada em segundo plano e agora sem o apoio da avó recentemente falecida, uma participação não muito impactante de Sônia Braga.
“Extraordinário” sugere que a decisão de enviar Auggie para a escola comum, apesar dos desafios de adaptação, do bullying e das relações nem sempre verdadeiras, talvez tenha sido a melhor escolha. Assim como em “O Quarto de Jack” (2015), com a direção de Lenny Abrahamson, Jacob Tremblay interpreta o papel de Auggie com maestria, transmitindo a melancolia e a maturidade do personagem diante das alegrias e desafios que a vida lhe apresenta. Tremblay é o coração do filme, demonstrando sensibilidade e uma profundidade filosófica surpreendente. Se o filme tivesse se concentrado ainda mais em Auggie, poderia ter alcançado um nível de excelência verdadeiramente sublime.
Filme: Extraordinário
Direção: Stephen Chbosky
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 9/10