Filmaço da Netflix indicado a 6 estatuetas do Oscar Nico Tavernise / Netflix

Filmaço da Netflix indicado a 6 estatuetas do Oscar

“Os 7 de Chicago” é um filme escrito e dirigido por Aaron Sorkin, autor de enredos premiados e aclamados, como “A Rede Social”, “Moneyball” e as séries políticas “The West Wing” e “Newsroom”. Apesar de seu histórico vasto como roteirista, sua incursão na direção é relativamente recente. Seu primeiro trabalho nessa função foi “A Grande Jogada”, de 2017. Contudo, em “Os 7 de Chicago”, Sorkin demonstrou notável evolução em suas habilidades como diretor.

O ponto forte indiscutível de Aaron Sorkin é o diálogo. Isso se manifesta de forma marcante em toda sua obra, caracterizada por diálogos extensos, ritmados e refinados. Sorkin é um expert em sarcasmos e busca minuciosamente perscrutar a personalidade e trajetória de vida de seus personagens para forjar suas falas. No entanto, é importante notar que seus diálogos não se assemelham, de forma alguma, a conversas do cotidiano. Um problema? Não mesmo. É crucial saber distinguir ficção da realidade.

Para Sorkin, é de relevância suprema que seus personagens expressem ideias e emoções que dificilmente seriam proferidas por uma pessoa comum. Profundas reflexões, sentimentos, humor e pensamentos que normalmente permaneceriam não ditos ou inexpressos por falta de habilidade ou coragem. São essas falas que conseguem evocar identificação imediata do público.

A vocação de Sorkin para roteiros é excepcional. Poucos roteiristas em Hollywood, ou em qualquer parte da indústria cinematográfica mundial, conseguem elaborar diálogos como Sorkin, que se consolida como um dos maiores, senão o maior, mestre contemporâneo nessa arte.

Em “Os 7 de Chicago”, o cineasta narra o controverso julgamento real de ativistas políticos ocorrido em 1969. O lançamento do filme coincidiu com a acirrada disputa eleitoral dos Estados Unidos em 2020, que culminou na derrota de Donald Trump. Sorkin reacende a discussão desse julgamento, o qual retrata uma perseguição política contra líderes de movimentos com uma suposta inclinação aos ideais esquerdistas no país. O filme abre as portas do tribunal para reconstituir o caso dos presos políticos, inicialmente oito, após uma manifestação fatídica que culminou em atos de violência generalizada.

Entre os detidos, figuras como Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), militantes universitários conservadores que se opunham ao governo e à Guerra do Vietnã; Abbie Hoffman (Sascha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), hippies que lideravam protestos em busca de uma revolução cultural e que, no filme, injetam doses de humor; Lee Weiner (Noah Robbins), John Froines (Danny Flaherty), David Dellinger (John Carroll Lynch) e, não menos importante, um dos fundadores dos Panteras Negras, Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II).

O julgamentos dos réus é coletivo, como eles tivessem se unido para conspirar e fomentar tumultos e violência durante a Convenção Nacional dos Democratas em Chicago, embora alguns deles nem se conhecessem. Bobby Seale sequer estava presente no ato que o levou à prisão. Durante o julgamento, Seale tem o direito a ter um advogado negado, figurando uma denúncia contra o sistema judiciário americano em situações flagrantemente contrárias aos direitos civis. Eventualmente, as acusações contra ele são retiradas.

O juiz engarregado do caso, Julius Hoffman (Frank Langella), demonstra parcialidade, enquanto o promotor do processo, vivido por Joseph Gordon Levitt, enfrenta uma questão moral, pois sabe que o julgamento não corre de maneira justa e que, na realidade, faz parte de uma trama favorável a Richard Nixon, que busca sufocar a oposição à Guerra do Vietnã e promover a brutalidade policial em meio a essa guerra absurda.

Ao longo do filme, a injustiça e a imoralidade das circunstâncias se tornam cada vez mais evidentes. No entanto, Sorkin acaba exagerando na dose de drama, um traço recorrente de seu estilo, ao elevar os protagonistas a um status quase divino. Explorar sua humanidade teria sido um tanto mais cativante para o público.

Apesar disso, o melodrama não afeta a qualidade da obra, que se destaca por sua trama envolvente, intercalando cenas documentais verdadeiras com ficção. “Os 7 de Chicago” resgata um período fascinante da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e coloca sob os holofotes os jogos sujos da política, instigando uma reflexão sobre as correntes políticas da esquerda e da direita em pleno contexto de eleições norte-americanas.


Filme: Os 7 de Chicago
Direção: Aaron Sorkin
Ano: 2020
Gênero: Biografia/ Drama/ Suspense
Nota: 9/10