Na Netflix: romance proibido para menores é o filme mais visto do momento no Brasil

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A Polônia parece ter encontrado uma forma singular de confrontar os espectros de seu passado sombrio, aliviando a carga de administrações que paradoxalmente se esforçam para recriar um clima de medo reminiscente de um passado não tão distante. Nesse contexto, o cinema surge como um canal, carregando uma ousadia quase tangível, e Tomasz Mandes emerge como o maestro dessa orquestra audaciosa. Ao lado de Barbara Białowąs, Mandes, conhecido por sua contribuição na trilogia “365 Dias”, tempera “Desejo Proibido” com uma moderação calculada, embora a essência de sua assinatura cinematográfica permaneça inalterada.

O enredo se desenrola como um eco prolongado de um casamento que gravou cicatrizes, ressoando além da mera existência, desafiando a convicção racional de uma mulher e desencadeando um turbilhão de emoções onde prevalecer sobre a perda e a reinvenção teria sido o curso esperado. No entanto, o domínio de Eros desafia a equidade de Têmis, ilustrando que os labirintos do coração humano escapam à lógica simplista. Mandes e Mojca Tirš, corroteristas, dançam na corda bamba da criatividade, flertando com uma sensação efêmera de frescor. No entanto, a predisposição para infundir intensidade nas sequências de intimidade, apesar de entrelaçar uma narrativa de amor genuíno e conflitos socioeconômicos que ressoam com a realidade, pode obscurecer a perspectiva do espectador em busca de substância mais profunda.

No coração da trama, enquanto Maks desafia as ondas em seu kitesurfe, Olga, imersa em reflexões na banheira de sua residência imponente, compartilha um espaço íntimo, embora vasto, com sua filha, Maja. A dinâmica que sustenta este trio é quase palpável, ainda que Mandes a mantenha velada com um zelo que beira o excessivo. A montagem cinematográfica, às vezes desorientadora, alonga a antecipação do encontro de seus personagens no presente, oferecendo, em vez disso, um vislumbre poético de seu passado, inocente e desinibido, reminiscente da abordagem adotada por Laure de Clermont-Tonnerre em “O Amante de Lady Chatterley” (2022).

Inserções habilidosas de cenas de Olga em sua arena profissional são uma janela para sua complexidade, reforçadas pela atuação de Magdalena Boczarska, que se destaca como a figura mais formidável deste enlace amoroso. Mandes tece a introdução entre Maks e Olga dentro de um esquema astutamente maquinado, visando a liberdade de Kamil, interpretado por Sebastian Fabijanski, cuja performance dá vida a um personagem multifacetado, permitindo aos espectadores a liberdade de conjecturar sobre as camadas ocultas de sua relação com Maks.

“Desejo Proibido” faz ecoar os ecos de “365 Dias”, mas impregnado de introspecções morais, um reflexo talvez do dilema interno de Mandes ao lidar com o desfecho familiar carregado de drama. Há, talvez, uma tentativa de cultivar um nicho cinematográfico distinto, mas o uso do erotismo como veículo autônomo é um jogo perigoso, ameaçando consumir seus próprios idealizadores, a menos que, é claro, você atenda pelo nome de Roman Polanski.


Filme: Desejo Proibido
Direção: Tomasz Mandes
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Romance/Erótico
Nota: 7/10