O filme perfeito da Netflix para esquecer os problemas, desligar o cérebro e relaxar Divulgação / Netflix

O filme perfeito da Netflix para esquecer os problemas, desligar o cérebro e relaxar

Navegando pelo mar expansivo do cinema contemporâneo, encontramos o testamento do desenvolvimento cinematográfico russo, ainda que em passos medidos, em “Major Grom contra o Dr. Peste”. O cinema russo, rico em contradições e tradições, deu seus primeiros passos não com uma obra de ficção, mas como um instrumento de propaganda. Em 1896, o encargo de imortalizar a coroação do czar Nicolau II recaiu sobre Camille Cerf, um cineasta belga que capturou esse momento histórico. Essa gênese, embora permeada por nuances autoritárias e diversidade involuntária, lançou as bases de uma indústria que, apesar das adversidades do tempo, consegue surpreender e reafirmar seu vigor.

Desde aquela celebração quase monolítica de poder, a cinematografia russa resistiu a turbulências políticas e revoluções sangrentas, nunca abafando sua voz. Em 1925, Serguei Eisenstein retratou a rebelião de marinheiros exigindo direitos básicos em “O Encouraçado Potemkin”, um filme ambientado no declínio do domínio Romanov. Este espírito audacioso e resiliente permeia as exportações culturais da Rússia, testemunhando que a arte do país é mais do que as sombras lançadas por líderes autoritários.

“Major Grom contra o Dr. Peste” honra essa tradição, equilibrando-se habilidosamente entre o legado e a inovação. O filme de Oleg Trofim, construído por um coletivo de sete roteiristas, é uma reminiscência melancólica, porém sem o peso do dogmatismo. A narrativa segue um investigador iconoclasta que resolve os casos à sua maneira, desdenhando convenções e evitando armamentos. A genialidade de Trofim está em como ele destaca o contraste entre o protagonista, um anti-herói despreocupado com sua recepção pública, e um antagonista cuja máscara social seria digna de um herói em uma era de inversões orwellianas.

O que vitaliza o filme de Trofim é a interpretação de Tikhon Zhiznevskiy, que encarna as esperanças públicas em instituições justas. A cena de abertura, uma perseguição frenética após um assalto a banco, estabelece o tom do filme. Esta cena, além de ser uma demonstração de coragem, também serve como uma prévia irônica do destino do personagem, frequentemente ridicularizado por seus colegas descontentes e ineficazes, um reflexo da resistência do protagonista à mediocridade.

“Major Grom contra o Dr. Peste” proporciona momentos de leveza e humanidade, como a dinâmica entre o personagem principal e o estagiário Dima, bem como a tensão romântica com Yulia, uma youtuber investigativa. Esses relacionamentos enriquecem a trama, infundindo calor em uma narrativa que poderia facilmente ter se tornado unidimensional. A inclusão sutil de romance, aliada a ação e drama, é uma das maiores vitórias de Trofim, tornando a história memorável.

Refletindo o legado de quase um século atrás, o cinema russo continua a se orgulhar de sua capacidade de gerar discussões. “Major Grom contra o Dr. Peste”, mesmo se propondo a ser uma obra de entretenimento, convida à reflexão, reafirmando que até na diversão, há espaço para experimentação e profundidade.


Filme: Major Grom Contra o Dr. Peste
Direção: Oleg Trofim
Ano: 2021
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 8/10