O filme da Netflix que você deveria assistir duas vezes Paramount Pictures / Netflix

O filme da Netflix que você deveria assistir duas vezes

As telas têm sido palco de uma reflexão incessante sobre a relação do ser humano com seu entorno e, em seus momentos mais sombrios, os potenciais catástrofes que essa relação pode gerar. Parece que há uma onda periódica de introspecção coletiva entre cineastas, independentemente de suas convicções e crenças, que os impulsiona a mergulhar em temas que tangenciam a extinção e a transitoriedade.

Grandes nomes, como Stanley Kubrick com “2001 — Uma Odisseia no Espaço”, Ridley Scott com “Blade Runner” e Lilly e Lana Wachowski com “Matrix”, exploraram essa temática. A natureza diversificada deste tópico é exemplificada pelo fato de que todos esses filmes, apesar das revoluções tecnológicas subsequentes, geraram sequências, mas raramente capturaram a mesma magia do original.

Alex Garland se destaca por reinventar e rejuvenescer essas tramas, desafiando a noção de que essa é uma temática saturada. Seu perturbador “Aniquilação”, lançado em 2018, é uma lufada de ar fresco nesse gênero, mesmo sendo uma adaptação do romance de Jeff Vandermeer. Dentro de sua narrativa, encontramos ecos de outras obras-primas, como o melancólico “Stalker” de Tarkovski e o satírico “Dr. Fantástico” de Kubrick.

No entanto, apesar de sua originalidade e profundidade, “Aniquilação” teve uma recepção modesta, possivelmente devido à promoção subestimada, uma sombra que talvez tenha sido lançada pelo polêmico “Mãe!” de Darren Aronofsky. Ainda assim, essas peças cinematográficas merecem uma atenção especial.

No epicentro de “Aniquilação”, temos a meticulosa adaptação de Garland do livro de Vandermeer. A história começa com um evento cataclísmico — a colisão de um meteoro com um farol. Seguindo este evento, somos apresentados a Lena, interpretada magistralmente por Natalie Portman, sendo interrogada em uma sala esterilizada. Benedict Wong, embora subutilizado, nos apresenta Lomax, cuja função é compreender o que ocorreu durante a expedição de Lena a uma zona misteriosa — da qual ela é a única sobrevivente.

À medida que o enredo se desenrola, descobrimos mais sobre Lena. Sua trajetória, marcada por conquistas profissionais e uma dor pessoal profunda devido ao desaparecimento de seu marido Kane, interpretado por Oscar Isaac, é habilmente retratada através de uma série de memórias e revelações.

Dentro da zona enigmática, conhecida como Brilho, Lena se junta a outras especialistas em suas áreas, cada uma trazendo sua própria personalidade e complexidade. Entre elas, temos a determinada doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), a sedutora Anya (Gina Rodriguez), a contemplativa Josie (Tessa Thompson) e a calma Cass (Tuva Novotny). O grupo se aventura em um terreno desconhecido, marcado por fenômenos inimagináveis e desafios mortais. Através de suas experiências, Garland nos força a questionar a natureza humana, sua resiliência e, em última análise, sua moralidade.

Por fim, “Aniquilação”, assim como “Ex-Machina”, é um reflexo da visão de Garland sobre a humanidade e seu impacto no mundo. Ele nos oferece uma análise sobre o poder e as falhas da tecnologia, bem como a fragilidade humana em um ambiente adverso. O filme, com suas imagens impactantes e mensagens profundas, não é apenas um marco do cinema apocalíptico, mas também um testemunho da capacidade do cinema de provocar reflexões.


Filme: Aniquilação
Direção: Alex Garland
Ano: 2018
Gêneros: Ficção científica/Terror
Nota: 10/10