O filme perfeito para encarar a semana está na Netflix (e certamente você não assistiu) Skip Bolen / Netflix

O filme perfeito para encarar a semana está na Netflix (e certamente você não assistiu)

O desejo humano por superação e transcendência, quando exacerbado, pode nos conduzir a um ciclo vicioso de autossabotagem e desconexão. A busca desenfreada por otimização e capacitação nos conduz, muitas vezes, a caminhos turbulentos. Este embate interno, forjado nas chamas das nossas imperfeições, faz com que muitos procurem atalhos para alcançar uma versão superior de si mesmos, mesmo que estes atalhos sejam arriscados ou potencialmente prejudiciais.

“Power”, dirigido por Ariel Schulman e Henry Joost, mergulha fundo na complexidade da natureza humana, usando o prisma do vício para analisar como os indivíduos podem ser levados a extremos na busca por um sentido maior. Cada escolha, por mais pessoal que seja, reverbera no ambiente ao redor, criando uma cascata de consequências que, muitas vezes, não são totalmente percebidas pelo indivíduo.

O desejo ardente de superar limitações, de alcançar patamares inexplorados de potencial, é uma característica intrínseca do ser humano. No entanto, essa aspiração, quando distorcida por motivações obscuras e ilusões de grandeza, pode levar a decisões precipitadas e perigosas.

Numa releitura surpreendente e provocativa, Mattson Tomlin cria um cenário em Nova Orleans onde o entorpecente em foco não é apenas uma droga, mas sim um símbolo da sede humana por transcendência. Ao oferecer poder e resiliência inimagináveis, a substância desperta o lado mais sombrio e, ao mesmo tempo, mais brilhante de seus usuários.

No contexto pós-desastre do furacão Katrina, o roteiro engenhosamente traz à tona as vulnerabilidades e os dilemas éticos de uma sociedade já fragilizada. A dualidade representada pelo policial Frank, interpretado magistralmente por Joseph Gordon-Levitt, e o misterioso criminoso que pode se camuflar à sua vontade, são reflexos dos conflitos internos que assolam o humano moderno. A cinematografia primorosa de Michael Simmonds e a montagem de Jeff McEvoy elevam a experiência, transformando o que poderia ser apenas mais um filme de ação em uma reflexão profunda sobre a humanidade.

A interação entre Gordon-Levitt e Jamie Foxx é um espetáculo à parte. A química entre ambos ilustra a complexa teia de relações humanas, onde cada decisão e cada vínculo importa. O universo, com suas estrelas distantes e mistérios não revelados, é uma metáfora para as profundezas da psique humana. Todos nós abrigamos desejos, esperanças e medos que raramente são expostos à luz do dia. Foxx, como Art, nos conduz através dos corredores mais sombrios e tocantes da história, especialmente ao revelar os mistérios que cercam sua persona enigmática.

A adição da talentosa Dominique Fishback, como Robin Railey, traz nuances de esperança e determinação, demonstrando que, mesmo em meio ao caos, ainda é possível encontrar pontos de luz e inspiração. A mensagem subliminar do filme, porém, ressalta que os verdadeiros desafios da humanidade não se resumem apenas ao vício, mas também às complexidades de nossas emoções, desejos e interações sociais.


Filme: Power
Direção: Ariel Schulman e Henry Joost
Ano: 2020
Gêneros: Ficção científica/Crime/Ação
Avaliação: 9/10