Suspense que acabou de estrear na Netflix fará com que você queira ficar em casa no final de semana Yoo Eun Mi / Netflix

Suspense que acabou de estrear na Netflix fará com que você queira ficar em casa no final de semana

Ganhar a vida pode ser especialmente difícil para uma garota sozinha, mas quando ela nasce com um dom que a maioria dos homens leva muito tempo para aperfeiçoar, a jornada fica, além de mais leve, mais divertida — ao menos para os padrões de quem se acostumou a resolver pendências intrincadas do jeito mais direto, ou do jeito que esperam que ela resolva. Em seu quarto filme, o sul-coreano Lee Chung-Hyun dá uma nova prova de que domina como poucos a arte de incomodar.

Três anos depois do sucesso de “A Ligação” (2020), “A Bailarina” volta a fazer espectadores se agitarem na poltrona ao abusar de cenas em que uma vingadora investe-se de sentimentos os mais primitivos a fim de não ser enganada por homens tão poderosos quanto brutais, evitando assim sorte parecida à de uma amiga que amava — por mais que se enrede no caso de modo a não conseguir mais deixá-lo. Feito nos contos de autores coreanos a exemplo de Jo Susam (1762-1847), a jornada de Ok-ju, a anti-heroína de Jeon Jong-seo, é marcada por um determinismo ao qual ela se opõe ferozmente, pelo menos até cumprir seu objetivo. Em se alcançando o fim da estrada, ela poderá, quem sabe, tomar outro caminho.

O balconista de uma loja de conveniência joga no celular enquanto uma dupla de ladrões armados com canivetes se aproxima, arrancando produtos da prateleira e deixando o rastro de caos de que o rapaz só inteira quando ele mesmo começa a verter sangue. Ok-ju chega, quer que lhe cobrem o cereal que ela escolheu, sabendo muito bem o que está acontecendo, tanto que pega das mãos do bandido o troco. Esse é o gancho de que Lee precisa para dar início a um balé muito bem coreografado, vertiginoso, de golpes que partem de Ok-ju para dois delinquentes, com Jeon mostrando um lado de seu talento diametralmente oposto ao que apresentou em “A Ligação”, no qual sua performance é definida por longos momentos de espera, tensão que vai se consumando quase ritmadamente, uma angústia que dá muitas e muitas voltas em torno de seu próprio eixo.

Aqui, a harmonia possível vem do número de dança clássica levado por uma vintena de garotas de branco, onde está, Choi Min-hee, a bailarina do título. O diretor-roteirista elabora a relação de Ok-ju e Min-hee de modo a instigar no público a suspeita de que as duas sejam (ou tenham sido) namoradas, o que nunca se diz com todas as letras, embora a figura embrutecida da ex-guarda-costas vivida por Jeon componha muito bem com a delicadeza de Park Yu-rim, tão frágil que não resiste a esse mundo. O ponto nevrálgico do enredo é justamente a investigação de Ok-ju acerca de quem teria motivado o suicídio de Min-hee. Quando chega a Choi Pro, o traficante de mulheres interpretado por Kim Ji-hoon, “A Bailarina” torna a sua vocação eminentemente bestial, com a justiceira e seu novo algoz se alongando em enfrentamentos de encher os olhos. Como todo o filme, aliás. 


Filme: A Bailarina
Direção: Lee Chung-Hyun
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Suspense
Nota: 8/10