Drama jurídico angustiante e comovente, na Netflix, é exemplo real de luta e resistência Divulgação / Saban Films

Drama jurídico angustiante e comovente, na Netflix, é exemplo real de luta e resistência

Protagonizado pelo ganhador do Oscar Christopher Walken, “Uma Voz Contra o Poder” é um drama de tribunal dirigido por Clark Johnson. O longa-metragem de 2020 foi adaptado para as telas por Garfield Lindsay Miller, Hilary Pryor e Maureen Dorey e conta a história real de Percy Schmeiser (Walken), um produtor rural canadense que foi processado pela bilionária Monsanto, uma das maiores empresas de sementes do mundo, depois que genes de suas sementes de canola foram encontradas em plantações na fazenda de Percy. O caso sem precedentes chegou até a Suprema Corte e mudou algumas regras dentro da área de produção rural.

A história é complexa e longa. A batalha judicial entre um homem comum e uma gigante corporativa não teria como ser fácil. O caso se desdobrou na justiça entre os anos de 1998 e 2001 e tomou conta dos noticiários, envolveu movimentos ambientalistas, provocou controvérsia entre agricultores, mas também serviu de exemplo para muita gente. Antes de se tornar um herói popular, Percy despertou a ira de muitos de seus semelhantes. Isso, porque um dos discursos da Monsanto para incriminar Percy era de que ele também estaria causando prejuízo a outros produtores ao não pagar licença de uso das sementes da marca, como eles, e competir no mercado.

A discussão sobre o uso da biotecnologia é difícil para quem é leigo, como eu. Mas ao que tudo indica, os genes criados pela Monsanto poderiam ter sido espalhados por qualquer evento comum da natureza, de uma ventania que levou sementes de outras fazendas para a de Percy, ao saco que se rasgou na carroceria da caminhonete que passava em uma estrada que atravessa a plantação dele. Qualquer coisa mesmo pode ter provocado o incidente. O fato é que o fazendeiro não utilizou conscientemente o produto patenteado sem licença e pagou um preço alto demais por algo que estava fora de seu controle.

Mas o filme é, sobretudo, sobre ganância. A Monsanto chegou a ser uma das únicas seis empresas do mundo responsáveis por 100% da produção e venda de sementes transgênicas. Em 2018, ela foi comprada pela Bayer, uma gigante alemã de adquiriu a multinacional por 63 bilhões de dólares e a integrou à sua marca.

O histórico da Monsanto é polêmico e envolve produção de agente laranja na guerra do Vietnã, pesticidas e herbicidas extremamente tóxicos, como o RoundUp, e o desenvolvimento de outros produtos rechaçados por ambientalistas por causar impactos gigantescos para a saúde e o meio ambiente. Além disso, o caso de Percy ganhou notoriedade na mídia, mas não foi isolado. Outros inúmeros agricultores também tiveram de pagar milhões por acusações similares à Monsanto.

Percy lutou ao lado da esposa, Louise (Roberta Maxwell), do advogado Jackson Weaver (Zach Braff) e da jornalista Rebecca Salcau (Christina Ricci) durante anos contra a gigante do agronegócio em uma batalha nada justa. Sem tirar o mérito de Weaver, ele não era o melhor advogado e teve de enfrentar a Justiça contra vários dos melhores profissionais do mercado contratados com a fortuna da empresa.

Em uma cena, Percy ainda destaca a impessoalidade e ganância do caso ao falar que nos tribunais ele não encontrava nenhum “João Monsanto”, apenas um grupo de advogados que representavam a empresa. Não era um duelo entre dois homens, mas um duelo entre um forte conglomerado e um singelo agricultor. Afinal, quem era a pessoa que se sentiu pessoalmente prejudicado pelos genes das sementes terem sido encontrados em suas terras?

O caso foi até a última instância depois de seguidas derrotas de Percy nos tribunais. A decisão da corte não foi a ideal, mas o tornou um verdadeiro representante do povo, que mostrou que é possível não baixar a cabeça para uma elite econômica impiedosa.


Filme: Uma Voz Contra o Poder
Direção: Clark Johnson
Ano: 2020
Gênero: Drama/Biografia
Nota: 9/10