O filme da Netflix que vai te abalar e arrepiar até os ossos Divulgação / Columbia Pictures

O filme da Netflix que vai te abalar e arrepiar até os ossos

Pelo que se vê em “Além da Morte”, pode-se intuir que acontecem coisas verdadeiramente escabrosas nas faculdades de medicina de todo o planeta, e essa é uma das boas premissas do filme do dinamarquês Niels Arden Oplev. Um quinteto de futuros médicos, residentes do hospital Trinity Emmanuel, descobre um jeito bastante controverso de iluminar seu passado, buscando de lá as tantas respostas de que precisam para calar os fantasmas que insistem em martirizá-los, até que, evidentemente, tragédias se anunciam.

O argumento original de Peter Filardi, redivivo no texto de Bem Ripley, torna-se uma fonte de chavões no longa de Oplev, bem administrados graças às atuações diligentes do jovem elenco, nisso também se parecendo com o original, de Joel Schumacher, levado à tela 27 anos antes — nele, uma certa Julia Roberts interpretava um papel quase obscuro, e seu lançamento antecedeu em duas semanas o arrasa-quarteirão “Uma Linda Mulher” (1990), de Garry Marshall, pelo qual sempre há de ser lembrada. Aqui, Nina Dobrev assume o posto com todas as honras, e no transcurso dos 109 minutos resta patente sua capacidade de magnetizar as atenções, dispondo de colegas igualmente talentosos.

Enquanto os créditos surgem na tela, pessoas descrevem suas experiências do outro lado da vida. Nesse momento tão particular da jornada humana, conhecido por uns poucos felizardos (ou não), o corpo fica refém de estímulos de uma dimensão oculta. Residentes um tanto perdidos tentam decifrar os mistérios do pós-vida, mas têm de antes decorar os nomes dos doze pares de nervos que existem na caixa craniana. Courtney Holmes, a aluna mais aplicada da faculdade, presta solidariedade a uma colega que cai no choro ao notar que não é capaz de memorizar mais que “oculomotor”, “troclear” e “glossofaríngeo”, e as duas trocam breves confidências sobre o sofrimento de aspirantes a médicos. Kiersey Clemons e Ellen Page (hoje assinando Elliott Page depois da redesignação de gênero) dão uma ligeira brandura ao que vai se passar na sequência.

O diretor esmiúça um pouco mais o universo da neurastenia por trás desses nerds à beira da loucura aqui mesmo neste plano: Sophia, a personagem de Clemons, padece de um distúrbio psiquiátrico agravado pela marcação cerrada da mãe, que parece querer formar-se mais que ela. Esse é o gancho que Oplev encontra para avançar mais uma casa rumo ao mote central de seu trabalho, as experiências de quase-morte (EQM) e seus efeitos no prosseguimento da vida, com um detalhe: o grupo realiza a condução do fenômeno artificialmente, induzindo a morte dos participantes por meio de doses cavalares de opioides e anfetaminas, o que, como se pode supor, nem sempre acaba bem.

Marlo, a líder da equipe interpretada por Nina Dobrev, tem uma larga percepção do que significa atravessar a fronteira da vida e regressar ao mundo terreno, ainda que seja Courtney quem poderia condenar com a devida veemência a leviandade dos amigos. Ela não volta, mas a poesia da última cena usa Chopin para como uma mensagem de que está melhor. Se Marlo e companhia aprenderam a lição, só suas almas profanas sabem.


Filme: Além da Morte
Direção: Niels Arden Oplev
Ano: 2017
Gêneros: Thriller/Ficção científica/Terror psicológico
Nota: 8/10