Bula de Filme: O Dilema das Redes é um bug na matrix Exposure Labs / Netflix

Bula de Filme: O Dilema das Redes é um bug na matrix

Meninas e meninos eu vi “O Dilema das Redes”, documentário da Netflix que virou moda entre os PIMBA (pseudointelectuais metidos a besta) na época do lançamento, e buguei. Em tempos de Chat GPT vale a pena zoar de novo. Muita gente ficou impressionadíssima, escrevendo textões pretensamente reflexivos em suas redes sociais sobre o filme dirigido por Jeff Orlowski. Sim, em suas redes sociais. O que por si só expõe a hipocrisia do caso. “O Dilema das Redes” é hipócrita, superficial, catastrofista e cafona. Qualquer pessoa que leu mais do que duas páginas de Marshall McLuhan, Isaac Asimov ou Pierre Levy vai rir das pretensões de “deuses arrependidos” dos entrevistados.

Basicamente o que temos são ex-executivos ou programadores de Big Techs que, de acordo com suas próprias palavras, eram idealistas que desejavam ardentemente conduzir a humanidade para algum tipo de paraíso tecnológico, construir uma utopia no melhor estilo Jetsons. Contudo, como doutores Frankenstein que jogam videogame, suas criações se transformaram em “Criaturas” incontroláveis que ameaçam escravizar os seres humanos. Foi então que falaram “não” e resolveram se transformar em Johns Connors genéricos e liderar a resistência contra as máquinas. Saíram do sistema para poder combater o sistema. Parece piada, mas o nível de ridículo é esse mesmo.    

O documentário até parte de temas sérios, mas os tratam de forma tão proselitista, ingênuo e partidária que perdem o tom. O autoritarismo é latente: quando a internet elegeu Obama estava tudo bem, mas depois que elegeu Trump precisa ser regulada. Ou seja, as pessoas precisam ser reguladas. O filme cria teorias da conspiração para pretensamente combater teorias de conspiração. Mas o pior de tudo é a novelinha estilo “Malhação” que inserem na narrativa como forma de ilustrar seu discurso. O diretor parece estar gritando: “não entenderam? Vou desenhar”. Sem contar a imitação tosca do desenho animado “Divertidamente” que usam para encenar a manipulação das redes.

Quer dizer então que as redes sociais manipulam as pessoas? Que grande novidade! Por acaso a tão respeitável Sétima Arte não faz a mesma coisa? Os produtores de “O Dilema das Redes” nunca leram sobre as teorias de Goebbels, Ministro da Propaganda do 3º Reich, sobre a manipulação das massas via cinema? Ou as pesquisas soviéticas do Efeito Kuleshov? O merchandising implícito ou explícita da indústria de Hollywood? Sem falar na imprensa, televisão e rádio. Ignorância ou má fé? Talvez esse seja o verdadeiro dilema.

Em resumo, “O Dilema das Redes” parece um filme ludista, mas é apenas um filme “caça like”. Não se pode negar que foram bem-sucedidos.


Filme: O Dilema das Redes
Diretor: Jeff Orlowski
Gênero: Documentário
Ano de lançamento: 2020
Impacto cultural: 3/10 (logo será esquecido)