Um olhar sobre os trabalhos análogos à escravidão nos tempos atuais, “7 Prisioneiros” é um filme que escancara a realidade silenciosa não apenas das metrópoles, mas de muitas cidades do Brasil e do mundo. Produzido por Ramin Bahrani e Fernando Meirelles, dirigido por Alexandre Moratto e escrito por ele, em parceria com Thayná Montesso, o longa-metragem gira em torno de um grupo de jovens que saem de Catanduva, no interior de São Paulo, para trabalhar na capital.
Recrutados por Gilson (Maurício de Barros), sob a promessa de ganhar muito dinheiro na cidade de São Paulo para ajudar suas famílias pobres, Mateus (Christian Malheiros), Ezequiel (Vitor Julian), Isaque (Lucas Oranmian) e Rodiney (Josias Duarte) saem da zona rural para trabalhar na cidade grande. A generosidade de seus empregadores, no entanto, não era isso tudo. No ferro-velho rodeado de arranha-céus, prédios espelhados e pontiagudos, torres de energia e fios de eletricidade, onde os rapazes são desovados para executar o trabalho, vive Luca (Rodrigo Santoro), o chefe autoritário e narcisista que mostra que o emprego não é aquele convencional, com carteira assinada e oito horas de expediente. Seus cabelos oleosos e a barba desgrenhada, a aparência desleixada, são representações da deterioração de seu próprio caráter. Os funcionários, na realidade, não podem sair do local, não têm direito a banhos e refeições, não podem se comunicar com suas famílias e trabalham com uma arma apontada em sua direção e sob ameaças constantes.
Não é de se surpreender que o grupo de jovens explorados sejam formados, em sua maioria, por negros, analfabetos e pobres. Sofrendo violência física e emocional, eles estão desesperados para recuperar sua liberdade. E é por isso que Mateus decide, então, liderar o grupo e negociar termos com Luca, em troca de sua submissão e lealdade. Aos poucos, eles estreitam sua relação e desenvolvem uma parceria desconfiada e improvável.
O que o espectador espera é que, conforme Mateus conquiste a confiança de Luca, tente ajudar seus companheiros a se livrar daquelas algemas invisíveis que os mantém explorados. No entanto, não é bem isso que acontece. Conforme Mateus se infiltra mais no mundo de Luca, podemos conhecer as origens deste homem, como ele chegou até ali e como ele se relaciona com as pessoas que não trabalham para ele. Em certo ponto, ele até se transforma em uma figura por quem desenvolvemos algum tipo de simpatia, porque ele não é o indivíduo plano, com aquela única camada ruim que conhecíamos.
O caminho oposto ocorre com Mateus. Quanto mais se aproxima do poder e da autoridade, mais se distancia de quem ele era no começo do filme. O garoto inteligente, com tato para negociar e de origens humildes começa a se parecer mais com seu malfeitor. O oprimido se torna o opressor. O enredo contorna linhas que nos trazem questionamentos morais e mostram a fragilidade do caráter humano.
Com um ritmo envolvente e roteiro surpreendentemente bom, “7 Prisioneiros” traz várias reflexões sobre as formas de exploração no mundo moderno e vai te dar muito conteúdo para pensar.
Filme: 7 Prisioneiros
Direção: Alexandre Moratto
Ano: 2021
Gênero: Suspense/Drama
Nota: 8/10