Obra-prima da animação, ganhadora do Oscar 2023, está na Netflix e você ainda não viu Divulgação / Netflix

Obra-prima da animação, ganhadora do Oscar 2023, está na Netflix e você ainda não viu

Do premiado cineasta mexicano Guillermo del Toro, “Pinóquio” é uma adaptação animada da famosa história de Carlo Collodi Lorenzini. Vencedor do Oscar de 2023 de melhor animação em longa-metragem, é a terceira estatueta de ouro conquistada pelo realizador. Sua primeira indicação na Academia foi de melhor roteiro original por “O Labirinto do Fauno”, 2007. A sorte não veio naquele ano, mas 11 anos depois, em 2018, com “A Forma da Água”, que disputou nas categorias de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro original. Ele levou nas duas primeiras, mas não faturou a terceira indicação. Neste ano, foi a vez de “Pinóquio” brilhar na cerimônia.

O filme mais longo de stop-motion já feito, del Toro decidiu trazer a história de Lorenzini para os tempos de fascismo, na década de 1930, na Itália de Mussolini. Gepetto (David Bradley) é um talentoso carpinteiro que perdeu o filho, Carlo (Alfie Tempest), durante a Grande Guerra. Anos depois, depressivo e alcoólatra, ele vê sua vida se reconstruir graças a Pinóquio (Gregory Mann), um boneco criado por ele a partir de pinhas. Contra todas as probabilidades, sua criação ganha vida pelas mãos da fada Wood Sprite, guardiã das coisas esquecidas. O gafanhoto Sebastian Jiminy Cricket (Ewan McGregor) fica encarregado de ser seu guia e conselheiro durante sua jornada terrena.

Curioso, destemido, teimoso e apaixonado pela vida, Pinóquio não gosta muito de obedecer. Em tempos de um regime ditatorial, a personalidade e identidade do boneco de madeira anda na contramão do sistema político do país. Sua figura, excêntrica e fabricada, por si só já é um ato de rebeldia, afinal ele é uma criança diferente de todas as outras. Quando o padre e as autoridades descobrem o menino de madeira, obrigam Gepetto a adequá-lo aos padrões sociais. Pinóquio deve se comportar e estudar como um garoto de verdade. Mas as coisas não saem como esperado e Pinóquio tem um espírito abrasivo demais para simplesmente obedecer. Logo seu comportamento passa a ser incômodo, não apenas para a comunidade, mas também para seu criador, Gepetto.

Enquanto isso, o Conde Volpe (Cristoph Waltz), dono de um circo itinerante, fica sabendo, por meio de um de seus empregados, um macaco (Cate Blanchett) astuto e maldoso, sobre o boneco que conversa e caminha como um menino de verdade. Como um diabólico manipulador, Volpe convence o menino a seguir o circo, ciente do potencial sucesso que sua apresentação pode se tornar. Não demora para que o dono do circo comece a explorar o trabalho e os lucros de Pinóquio para enriquecer as suas custas. Enquanto isso, cheio de culpa e arrependimento, Gepetto sai em busca do filho pródigo para que este possa retornar à sua casa.

Uma versão sombria e bem-acabada da famosa história infantil, “Pinóquio”, por Guillermo del Toro, é um filme sobre a relação entre pais e filhos. Ao lado de Mark Gustafson, ele traça um paralelo entre as relações de obediência dos italianos com seu líder, Mussolini, a dos filhos com os pais, da religião com seus fiéis, dos patrões com os empregados. Como a necessidade por aceitação apequena a alma e transforma todos em cães adestrados, nos afastando da nossa essência. Pinóquio começa como um boneco de madeira recém-trazido à vida, apaixonado e encantado por tudo que vê no mundo pela primeira vez e, aos poucos, se torna obediente e moldável. Mas ao longo da história, lições serão aprendidas por ele e pelo pai.

Um trabalho praticamente artesanal, a animação foi feita de maneira muito meticulosa e conseguiu dar vida às figuras projetadas na mente de del Toro. Diferente de qualquer versão que você já tenha conhecido desta história, o filme tem o charme excêntrico do realizador, conhecido por suas criações obscuras e autênticas e uma forma muito particular e criativa de enxergar pessoas escapando por meio da sua imaginação da realidade de um mundo em crise, uma sociedade decadente. Um filme poético e feito com muito esmero, “Pinóquio”, de del Toro e Gustafson, é uma verdadeira obra-prima.


Filme: Pinóquio
Direção: Guillermo del Toro
Ano: 2022
Gênero: Animação
Nota: 9/10