Brutal e violento, filme de ação que estreou esta semana na Netflix é o mais visto do mundo na atualidade

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Os tons lúgubres da violência dominam boa parte dos 87 minutos de “Violência Solitária”, o thriller em que Stephen Durham repisar muitos dos chavões do gênero na tentativa de recriar a aura dos clássicos do gênero, até aproximando-se um pouco do faroeste. Irretocável, a fotografia de Jon Schweigart mantém a história num compasso de tensão sem fim, desde as primeiras cenas do flashback que dá algumas pistas quanto aos desdobramentos da ideia infeliz de um casal apaixonado. Apostando na confusão, Durham vai atulhando seu filme de diálogos mais e mais acerbos, em que os personagens centrais experimentam a hostilidade da cidadezinha onde pretendem passar o feriado sem qualquer preocupação com os eventuais contratempos do dia a dia. Antes que cheguem ao bosque num lugar inóspito do Alabama, sudeste dos Estados Unidos, onde pretendem acampar, Durham e seu trio de roteiristas situam a dupla numa estrada deserta, por onde se deslocam num jipe laranja sem maiores sobressaltos, até quase serem abalroados pela caminhonete prata cujo motorista parece bastante estimulado pela beleza da condutora.

Esse desconforto inicial perdura no café da Rota 56 onde Brenner Baker e o marido, Dillon, resolvem entrar para fazer um lanche sem ao menos suspeitar que o estabelecimento pertence à mãe do homem que os perseguira. No café, nota-se que Brenner, a personagem de Ellen Hollman, é uma mulher bastante segura, uma vez que consegue se defender sozinha do assédio de Butch — ainda bem, porque Dillon, de Matt Passmore, é um pouco civilizado demais para aqueles confins tão agrestes. O reencontro compulsório dos dois com a figura selvagem de Butch, muito mais que apenas o cafajeste mimado a que Gary Kasper dá vida, serve para ordenar o andamento confuso do longa, que vai se agudizando até o final. Enquanto ainda é possível se captar todos os inúmeros detalhes do enredo, surge também a Mama encarnada por Geraldine Singer, mãe de Butch e outros marmanjos mal-encarados e prontos para levar a termo suas orientações. Dona do restaurante e gerente de negócios que, conforme Durham explica mais tarde, vai muito mais longe que um singelo diner para motoristas famintos e cansados, a antagonista de Singer é o bom gancho de que se vale o diretor a fim de apresentar os dois viajantes aos perigos que justificam a trama.

Histórias com mocinhas quase como super-heroínas, dotadas das habilidades específicas que as livram de apuros inesperados, foram ganhando espaço conforme a própria importância da mulher nas várias esferas da vida social se ampliou. No caso de “Violência Solitária”, a personagem de Hollman lança mão da técnica aprendida no curso de formação dos Rangers, o grupo de elite do exército americano, para desvencilhar-se das armadilhas que lhe prepara Butch, um vilão muito caricato, e, claro, empreender o plano de desagravo a que alude o título. Já sem poder contar com Dillon, Brenner dá cabo de seus verdugos um por um, exatamente como se espera em filmes com essa proposta, feitos para agradar o aficionado pelo gênero, e só. Fosse apenas isso, “Violência Solitária” alcançaria seu objetivo com folga e louvor; contudo, a pretensão em tecer comentários político-ideológicos rasteiros sobre quase tudo — do ingresso criminoso de armas e drogas à hipocrisia e o pseudomoralismo que norteia a vida de falsos cristãos (Mama é uma protestante ardorosa, daquelas que faz questão de cumprimentar o pastor ao fim do culto) —, e do jeito mais desmazelado, coroada por uma edição lenta, arrastada, bisonha mesmo, além da forma como os moradores da cidadezinha são retratados, todos rednecks insensíveis, alienados e coniventes com posturas delituosas, coloca tudo a perder. É muito elitismo artificioso e ódio gratuito quando balas e sangue chegariam.


Filme: Vingança Solitária
Direção: Stephen Durham
Ano: 2020
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 7/10