Filme argentino sobre uma das mais belas histórias de amizade do cinema está na Netflix e você não assistiu Divulgação / VerCine

Filme argentino sobre uma das mais belas histórias de amizade do cinema está na Netflix e você não assistiu

A história real de Philippe Pozzo di Borgo e Abdel Sellou foi retratada em muitos filmes, sendo o mais famoso deles, “Intocáveis”, de 2011. A partir desta produção, diversos diretores de muitas nacionalidades pensaram em contar uma versão própria. Uma delas é a do cineasta argentino Marcos Carnevale, “Inseparáveis”, de 2016. Mas essa leitura é bem diferente da francesa, que tem a atuação encantadora e carismática de Omar Sy.

Na versão da França, de Olivier Nakache e Éric Toledano, Abdel é Driss, vivido por Omar Sy, o funcionário irreverente e carismático de Philippe (François Cluzet), um magnata que tem o corpo inteiro paralisado por um acidente com um cavalo. Driss deve ajudá-lo a fazer as tarefas mais básicas do cotidiano, como tomar banho e se alimentar, mas, conforme convivem, desenvolvem fortes laços de lealdade e amizade.

Carnevale parece não ter entendido muito bem a personalidade de Abdel, o cara da vida real, mas entendeu a mensagem, que é o mais importante. Em vez disso, ele traz um Tito (Rodrigo de la Serna), que seria uma representação cinematográfica de Abdel, desagradável, mal-educado e assediador de mulheres. Ele trabalha para o milionário Felipe (Oscar Martínez), um homem culto, inteligente e que, como o Philippe da história real, ficou tetraplégico depois de um acidente.

Provavelmente deve ter parecido engraçado para Carnevale usar algumas piadas desrespeitosas para representar a personalidade rebelde e engraçada de Abdel. Esse é o maior defeito deste filme, que poderia ter seguido o mesmo rumo quase que impecável de “Intocáveis”.  O diretor e roteirista tenta justificar as falhas de caráter de seu personagem pelo seu passado traumático e problemático.

Mas nem tudo é tão ruim. A essência é a mesma de todos os outros filmes, mostrar como a amizade entre eles afetou positivamente a vida de ambos. Felipe vive dentro de uma bolha. Sempre viveu, mesmo antes de seu acidente. Em um mundo onde status social é tudo, é preciso ter os modos certos, o requinte e a fineza para pertencer. A chegada de Tito é como desafiar a gravidade. Ele faz com que Felipe quebre todas as regras primordiais de seu universo.

Com Tito não há modos, requinte ou fineza. Ele está constantemente zombando de obras de arte, colocando os pés sobre o balcão do mezanino do teatro durante a ópera, xingando as pessoas e caçando brigas. Para Felipe, a presença de Tito é como fugir da realidade. É uma forma dele escapar para um mundo onde tudo é possível. Infringir as regras o faz se sentir vivo novamente.

O filme de Carnivale é problemático, mas não se perde da mensagem principal sobre a importância da amizade e sobre como ela transforma a vida das pessoas. Ter um amigo é como ter uma ponte que nos conecta para fora de nossa ilha. É uma ligação com o mundo. É importante não perder essa ponte para o mundo, porque isolados em nossa própria ilha, a vida é um tanto quanto solitária e desesperadora. Quando Felipe perde os movimentos, pensa ter perdido tudo, mas a amizade com Tito o faz lembrar de que ele ainda está vivo.


Filme: Inseparáveis
Direção: Marcos Carnevale
Ano: 2016
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 7/10