Absolutamente inesquecível, filme com Anthony Hopkins, ganhador de 4 Oscars, está na Netflix Divulgação / DreamWorks

Absolutamente inesquecível, filme com Anthony Hopkins, ganhador de 4 Oscars, está na Netflix

John Ford é o cinema e Steven Spielberg o seu mais aplicado discípulo. Nos passos de dois filmes de Ford (“Judge Priest”, de 1935 e “The Sun Shines Bright”, de 1953) que colocam a Justiça como a costura da nação dividida ao fazer prevalecer a lei sobre a barbárie, Steven produz “Amistad” em 1997.

Por ser talvez o maior cineasta americano vivo, Steve filma o roteiro do premiado David Franzoni (de “Gladiador”) ao ampliar o foco de Ford, distribuindo o papel decisivo do juiz Priest nos fundamentos da liberdade via divisão dos poderes. Destaca vários protagonistas,  como o advogado obscuro que se impõe pela originalidade com que exerce seu oficio, os negros libertos e os brancos abolicionistas que colaboram no  implicado processo de disputa da posse de escravos traficadas ilegalmente, e principalmente no líder dos cativos e no insuperável Anthony Hopkins  no papel do ex-presidente dos Estados Unidos que assume o caso dos cativos amotinados no navio espanhol Amistad, quando o conflito estadual migra para a Suprema  Corte devido à  interferência do poder Executivo no Judiciário.

O Supremo americano, que tantas vezes foi reportado no cinema (inclusive no “The Post”, do próprio Steven) ocupa na Sétima Arte o lugar decisivo na defesa da justiça e da soberania do país.

Pois é disso que trata o cinema de Ford e Spielberg e inúmeros discípulos: a fidelidade da nação à constituição e seus princípios éticos, que resistem ao tempo por garantir o bem comum: a sobrevivência dos cidadãos protegidos pela ética dos seus ancestrais, os Pais Fundadores.

O magistral e emocionante discurso de Hopkins no Supremo, quando ele argumenta com a ética da lei contra a manipulação da Justiça (o que poderia colocar a perder a jovem nação americana) tem um precedente valioso: Henry Fonda como o Jovem Lincoln de John Ford, que salva um caso perdido pela sua determinação e a aprovação do juiz, convencido pela argumentação incontestável.

Pois não basta a lei (embora ela seja fundamental) para fazer Justiça. É preciso que a pesquisa dos envolvidos, o conhecimento dos fatos e contratos e o debate desmontem a lógica de quem apenas defende interesses e não princípios. Uma lição que o mestre Ford e seu discípulo Spielberg — ambos geniais — nos deixa para que possamos aprender como se sustenta uma nação contra os inimigos que usam a lei para destruí-la.


Filme: Amistad
Direção: Steven Spielberg
Ano: 1997
Gêneros: Drama/Mistério
Nota: 9/10

Nei Duclós

Escritor e jornalista.