Filmes

Protagonizado por Christian de Sica — o filho do grande Vittorio —, “O Preço da Família”, a dramédia do italiano Giovanni Bognetti, tem uma leveza inconsequente — e algo pueril —, mas tem uma gota de Tolstói, com o sinal trocado. Se o russo fulmina quem ousa lê-lo dizendo que as famílias felizes são muito parecidas umas com as outras, Bognetti confirma a estupidez de pais desditosos que se comportam como todos os outros, apesar da lógica.

Um olhar sobre o futuro, o filme sul-coreano “Jung_E” explora a realidade da humanidade no século 22, quando finalmente já tivermos desgastado a Terra e todos os seus recursos ao ponto de termos que habitar o espaço. As guerras, claro, jamais irão cessar. E é diante de um cenário caótico, que são desenvolvidas as tecnologias militares de inteligência artificial. Jung_E é uma guerreira criada para combater as forças inimigas, mas pode também se tornar um produto comercial, quando não for mais de interesse do governo.

Mesmo num trabalho de magros (mas acachapantes) 41 minutos, Kartiki Gonsalves prima pela serenidade, pela delicadeza e pela doçura em “Como Cuidar de um Bebê Elefante”, registro afetivo da vocação de gente como Bomman e Bellie, nativos da etnia Kattunayakan, desde sempre habituada ao trato com os elefantes. Muito mais que um ofício, cuidar dos animais é para os Kattunayakan uma sina e, em dadas circunstâncias, uma bênção.

Uniformes de soldados alemães mortos nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial são removidos de seus corpos despedaçados, transportados para galpões onde são lavados, novamente tingidos para remover as manchas da lama e do sangue, costurados seus buracos de balas e explosões e dados a novos soldados para cumprir o mesmo ciclo. Assim começa o chocante “Nada de Novo no Front”, com o som intermitente das máquinas de costuras, que se confundem com o das metralhadoras e das esteiras dos tanques. Dirigido por Edward Berger, é um dos filmes com mais indicações ao Oscar 2023 e uma das mais cruéis e realistas produções antiguerra de todos os tempos.

“Amores Canibais”, de Ana Lily Amirpour, fala das possibilidades nada animadoras para o homem, cenário que ele mesmo se empenha em fomentar, mas também de como, mesmo num estado de flagrante degenerescência, sempre resta nos indivíduos alguma coisa que os lembre de sua natureza humana e, portanto, igualmente divina.