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20 poemas para quando tudo cair — e tua mãe ainda estiver lá

20 poemas para quando tudo cair — e tua mãe ainda estiver lá

Este poema nasceu da queda. Não de uma só, nem de uma grandiosa — mas de várias, sucessivas, discretas, daquelas que não fazem barulho nem pedem socorro. Quedas pequenas, mas fundas. De fé, de nome, de lugar, de voz. Às vezes, ninguém nota. Às vezes, nem quem cai se dá conta. Só mais tarde, quando o corpo volta a caber, percebe-se que algo o sustentou no escuro. Este poema fala disso. Das vinte vezes em que você caiu — ou poderia ter caído — e havia ali, mesmo que em silêncio, uma presença anterior à palavra: tua mãe.

Talvez o algoritmo não esteja nos escondendo. Talvez só esteja nos ensinando a desaparecer

Talvez o algoritmo não esteja nos escondendo. Talvez só esteja nos ensinando a desaparecer

Quando milhares de sites brasileiros — culturais, jornalísticos, científicos — viram sua audiência evaporar sem explicação, sem erro, sem aviso, o que se revelou não foi uma falha no sistema. Foi o próprio sistema funcionando com exatidão. O Discover foi vendido como uma ferramenta de descoberta. Mas a descoberta exige risco, exige abertura ao que é novo, ao que não se esperava, ao que talvez desconcerte. Isso dá trabalho. Não converte. Não segura o dedo rolando por 12 segundos. Então a curadoria virou conforto. E o conforto virou código. Mas o problema não é só o conteúdo leve. O problema é a reorganização secreta da superfície da internet.

Salmo de um pagão, de número 69 — dr. Alonso Monteiro da Silva

Salmo de um pagão, de número 69 — dr. Alonso Monteiro da Silva

Um médico boêmio, um jardineiro tardio, um humanista convicto. Alonso Monteiro da Silva viveu como poucos ousam: entre a leveza das madrugadas e a gravidade da Medicina, sem jamais perder a integridade. Descobriu lesões que salvaram vidas, fundou instituições, acolheu pacientes com afeto e colegas com riso. Preferia estar presente a ser lembrado — e, mesmo assim, é inesquecível. Viveu 69 anos, mas carregava séculos nos olhos. Esta é uma homenagem a quem transformou a existência em arte imperfeita e inteira.

Não é um livro. É um sintoma, um organismo elétrico enterrado na sua cabeça Foto / Cosmin Bumbutz

Não é um livro. É um sintoma, um organismo elétrico enterrado na sua cabeça

O protagonista é um homem sem nome. Professor, sem alunos memoráveis. Escritor, sem obra publicada. Alguém que vive em Bucareste como quem respira o ar errado. A cidade, ali, não é cenário: é sintoma. Umidade que sobe pelas paredes, poeira de giz que se acumula na pele, salões públicos que cheiram a fungo e náusea. O mundo real range. Há algo nele que não encaixa — e a literatura não tenta consertar.

A certeza da incerteza

A certeza da incerteza

Muito se fala sobre os dilemas da adolescência, mas pouco se discute o que acontece quando um adolescente simbólico ocupa o cargo mais poderoso do planeta. Com atitudes impulsivas, vaidade exagerada e um desprezo quase divertido por consequências, Trump encarna o arquétipo do jovem mimado com poder demais nas mãos. Seus decretos performáticos, suas falas narcisistas e sua relação com o espelho sugerem mais um garoto entediado do que um estadista. Em vez de governar, ele joga — com o ego, com o país, com o mundo. A economia reage com espanto, os analistas se confundem, e a única certeza parece ser a incerteza.