Viver é se despedir um pouco de nós mesmos

Viver é se despedir um pouco de nós mesmos

Essa vida é mesmo surpreendente. Em uma única existência somos capazes de viver e sobreviver a diversas fases, sob a sorte e a falta dela que nos unge os dias. De uma forma concisa eu poderia dizer que viver é uma sucessão de erros e acertos, de tropeços e saltos, afogamentos, resgates, onde só desfrutamos e valoramos as subidas depois que despencamos ladeira abaixo. E como toda história tem dois lados, na vida não poderia ser diferente. A gente só percebe a vitória e a derrota quando estamos no topo, ou no poço.

Lugar de mulher é na cozinha

Lugar de mulher é na cozinha

Enquanto lavava as louças, ouviu pelo rádio que no próximo domingo seria comemorado o Dia Internacional da Mulher. Na altura do campeonato, achava aquilo irrelevante. A meta era se matar antes do final da quaresma. Acredite quem puder: a única carne vermelha que comiam naqueles dias era o seu coração vazio servido num prato fundo.

“O que eu sinto é um imenso desânimo; uma sensação de isolamento insuportável…”

“O que eu sinto é um imenso desânimo; uma sensação de isolamento insuportável…”

O mal do nosso século não é a tuberculose, antes o fosse. O mal do século é uma doença mais profunda: a banalização do Mal. Se em outros tempos, mal-do-século já foi um bem decisivo para a literatura, o de nosso século parece ser definitivo para a aniquilação desta e a doença mental de muitos leitores. Poetas menores não pegavam tuberculose, por não se exporem ao frio das madrugadas, em nome da arte. Poetas de hoje parecem não ter balas nas palavras contra a crueldade generalizada.

Porque o amor pertence à insuspeitada categoria das coisas imprevisíveis

Porque o amor pertence à insuspeitada categoria das coisas imprevisíveis

Um desvario. É disso que se trata. O amor é uma sandice. Um desvio do caminho de dor em que a vida mergulha de quando em vez. É isso, sim. No meio de tanta estupidez e medo e indiferença, vem alguém tomado de coragem, declara seu amor em voz alta e sai sorrindo um parque de diversões e seus carrosséis, rodas gigantes, montanhas russas. O amor é a maior ousadia da vida. É quando ela, abusada que só, ignora a morte à espreita, realiza, avança, provoca, acontece. Quem ama quer acordar mais cedo e viver até tarde. Amar é se dar conta de que estamos vivos.

Ela poderia estar malhando, mas…

Ela poderia estar malhando, mas…

Ela estava comendo um pastel e vendo a vida passar. Seu ônibus sairia em uma hora e até lá ela poderia comer mais algumas coisas e fazer outra coisa que gostava muito: criar scripts para a vida das pessoas que ela observava. Rodoviárias, aeroportos e metrôs eram seus ambientes favoritos para devanear sobre a história, sobre as dores e os amores daqueles desconhecidos, cujas faces ela encarava tentando ser sutil.