Autor: Adalberto de Queiroz

Arrancando o véu ao politicamente correto e moralmente safado

Arrancando o véu ao politicamente correto e moralmente safado

Os olhos da alma que se debruçam sobre o horror como que se emudecem — molhados e tristonhos, quando cedem à tentação de espiar o cortejo dos crimes como espetáculo, divulgados na web. Decrescemos em humanidade quando soçobramos, cedendo à tentação midiática, e damos uma espiadela nos porões do espetáculo de horror em que se tornou nossa política internacional, de guerra a guerra, passando do hediondo à catástrofe em dois quadros rápidos do noticiário na TV.

De gatos, gatunos e víboras convertidas: o zoo(i)lógico brasileiro está cheio…

De gatos, gatunos e víboras convertidas: o zoo(i)lógico brasileiro está cheio…

Um clarão na página que acenda sua imaginação — eis o que pretendo continuar fazendo. Se você já pulou a barreira do título, entre mil manchetes mais picantes do seu dia-a-dia na internet, seja bem-vindo ao sanatório, desculpe, ao zoológico brasileiro da política. Saiba que neste exato instante que me lês, alguém presta consultoria que leva à pilhagem contra o teu, o meu, o nosso suado dinheiro e contra a consciência do brasileiro. Alguém se candidata a manter as apostas altas no jogo-do-bicho brasileiro: o que dá na cabeça, não importa desde que o ganho seja alto.

“O que eu sinto é um imenso desânimo; uma sensação de isolamento insuportável…”

“O que eu sinto é um imenso desânimo; uma sensação de isolamento insuportável…”

O mal do nosso século não é a tuberculose, antes o fosse. O mal do século é uma doença mais profunda: a banalização do Mal. Se em outros tempos, mal-do-século já foi um bem decisivo para a literatura, o de nosso século parece ser definitivo para a aniquilação desta e a doença mental de muitos leitores. Poetas menores não pegavam tuberculose, por não se exporem ao frio das madrugadas, em nome da arte. Poetas de hoje parecem não ter balas nas palavras contra a crueldade generalizada.