Romance baseado em best-seller com mais de 100 mil cópias vendidas está no Prime Video Divulgação / Glory Films

Romance baseado em best-seller com mais de 100 mil cópias vendidas está no Prime Video

Ao refletir sobre o nazismo, raramente se considera como esse período sombrio afetou profundamente a vida de indivíduos que foram forçados a enfrentar sua brutalidade diretamente. Esse capítulo doloroso da história moldou existências de maneira indelével, deixando marcas que ultrapassam gerações, sendo lembrado por aqueles que, mesmo distantes no tempo e no espaço, não conseguem esquecer a intensidade desses acontecimentos.

Os alemães têm uma forte inclinação para revisitar esse episódio terrível de sua história, repetidamente narrando-o para que as novas gerações compreendam os perigos do autoritarismo e para que os mais velhos encontrem algum alívio em recordar, mesmo que dolorosamente, uma memória que, apesar de tudo, se tornou uma lembrança.

O filme “A Tabacaria”, disponível no Prime Video, combina a percepção coletiva da perseguição implacável aos judeus, intensificada com a ascensão de Hitler, com a jornada de amadurecimento de um jovem de dezessete anos. Este rapaz, confrontado com a injustiça ao seu redor, encontra alívio em uma amizade breve, porém transformadora, e na descoberta do amor, que, como muitas coisas, também é passageiro.

Baseado no romance homônimo do austríaco Robert Seethaler, publicado em 2012, que faz referência aos conselhos valiosos de Sigmund Freud ao protagonista, o roteiro de Leytner, Seethaler e Klaus Richter vai além dessa premissa. Bruno Ganz (1941-2019) sustenta a narrativa até a chegada de Simon Morzé, e juntos, eles conduzem a história para um tom levemente cômico, tornando-a envolvente.

Franz Huchel, interpretado por Morzé, deixa seu vilarejo em 1937 e se muda para Viena, deixando para trás sua mãe, Margarete, interpretada por Regina Fritsch, que trabalha como empregada doméstica. Franz, inicialmente ingênuo, percebe gradualmente a necessidade de reavaliar sua própria natureza, e a transformação desse jovem é um dos aspectos mais cativantes do filme, habilmente dirigida por Leytner.

Leytner evita o melodrama, desenvolvendo o arco da história através de diálogos genuínos e apropriados para o protagonista, um jovem inexperiente e sem muita educação formal. À medida que Franz é forçado a lidar com as turbulências sociais de seu tempo, ele também se descobre como indivíduo e experimenta os primeiros sinais do amor. É notável observar como Morzé define seu personagem de maneira autônoma, dependendo minimamente de Ganz, que, mesmo assim, enriquece as emoções que Morzé expressa.

Conforme Freud sai de cena e falece dois anos depois, em 1939, outras figuras ganham destaque, como Otto Trsnjek, amante da mãe de Franz e dono da tabacaria onde o jovem começa a trabalhar, interpretado por Johannes Krisch, e Anezka, a jovem que seduz e magoa Franz.

Emma Drogunova traz um toque de frescor ao filme, cuja fotografia por Hermann Dunzendorfer é dominada por tons sombrios. Crescer é doloroso, amar é doloroso, mas há sempre um período onde as noites são mais longas que os dias. “A Tabacaria” explora exatamente isso.


Filme: A Tabacaria
Direção: Nikolaus Leytner
Ano: 2018
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 9/10