Inspirada na biografia de Gerhard Richter, obra-prima europeia indicada a 2 Oscars é um dos mais belos filmes na Netflix Caleb Deschanel / Sony Pictures Classics

Inspirada na biografia de Gerhard Richter, obra-prima europeia indicada a 2 Oscars é um dos mais belos filmes na Netflix

A ascensão de regimes autocráticos muitas vezes se entrelaça com uma repressão severa às expressões artísticas que desafiam sua autoridade. Este fenômeno é habilmente explorado por Florian Henckel von Donnersmarck em seu trabalho intitulado “Nunca Deixe de Lembrar”. O filme mergulha profundamente nas camadas psicológicas que compõem o regime nazista, desvendando aspectos íntimos e perturbadores da mente de Adolf Hitler.

Von Donnersmarck nos conduz por uma jornada reveladora, onde somos confrontados com a frustração profunda de Hitler como um pintor fracassado, cujo desdém pela arte serviu como uma válvula de escape para seu ressentimento contra a civilização. A megalomania do ditador atinge proporções alarmantes, como evidenciado pela imposição de uma estética restrita pelo Partido Nazista, que censurava qualquer expressão divergente de sua ideologia distorcida.

O diretor habilmente situa esses eventos em Dresden, onde somos apresentados ao jovem Kurt, cuja experiência na exposição grotesca que zomba de artistas renomados como Picasso e Kandinsky nos expõe à manipulação e opressão ideológica que moldaram sua vida desde a juventude até a idade adulta.

Ao longo do filme, acompanhamos Kurt em sua jornada através das décadas marcadas por regimes totalitários, o que nos oferece uma análise profunda da psique humana sob opressão. Além disso, o filme destaca as semelhanças assustadoras entre o nazismo e o regime comunista subsequente, revelando como a repressão artística persistiu mesmo após o fim da Segunda Guerra Mundial, agora sob o pretexto do realismo socialista.

O  filme destaca o caráter insidioso da opressão ao longo do tempo, revelando como as garras do totalitarismo continuaram a se estender mesmo após o fim da Segunda Guerra Mundial. O realismo socialista, adotado pelos comunistas, não só ecoou as práticas autoritárias do nazismo, mas também perpetuou a supressão da criatividade e da liberdade de expressão.

No entanto, o verdadeiro cerne do filme reside na jornada pessoal de Kurt, um testemunho vivo das vicissitudes históricas e das batalhas internas enfrentadas por aqueles que resistem à tirania. Através de sua história, somos confrontados com a pergunta incômoda: até que ponto estamos dispostos a sacrificar nossa integridade pessoal em nome da sobrevivência?

À medida que nos envolvemos na complexidade emocional dos personagens e nos confrontamos com os dilemas morais apresentados, “Nunca Deixe de Lembrar”, na Netflix, transcende o mero entretenimento cinematográfico. Torna-se um chamado à ação, um lembrete contundente de que a história não deve ser esquecida e que as lições do passado devem ser aprendidas e aplicadas no presente.

Após três horas imersos nessa obra, somos instados não apenas a refletir sobre os horrores do nazismo e do comunismo, mas também a questionar nossas próprias convicções e responsabilidades no mundo atual. Pois, como Kurt, somos confrontados com a escolha entre a conformidade com regimes opressivos ou a luta pela liberdade e pela dignidade humana.


Filme: Nunca Deixe de Lembrar
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 9/10