Premiado em vários festivais internacionais, filme brilhante e independente acaba de chegar à Netflix Divulgação / AZ Films

Premiado em vários festivais internacionais, filme brilhante e independente acaba de chegar à Netflix

Vencedor do prêmio Roger Ebert do Festival Internacional de Cinema de Chicago, em 2017, “Matar Jesus” é um drama político da cineasta colombiana Laura Mora Ortega. Escrito a partir de uma tragédia pessoal, Laura expurga os demônios de seu passado narrando o assassinato de seu pai e expõe a violência urbana, motivada especialmente pelo narcotráfico de países latino-americanos e como o ciclo de violência sempre se renova pela ausência do Estado.

No longa-metragem, ela é Paula (Natasha Jaramillo), uma estudante de fotografia de 22 anos, bem-informada e politicamente ativa, além de filha de um professor universitário. Um dia, no caminho para casa, uma motocicleta com dois homens passa pelo carro deles e o carona dispara com um revólver contra o pai de Paula. Ela presencia o assassinato do pai em uma cena realista e incisiva.

Paula conta à polícia o que viu, mas ela e a família não sabem ao certo quem matou o pai dela ou os motivos. Os posicionamentos socio-políticos dele certamente incomodavam muitos e as ameaças de morte eram recorrentes. Mesmo assim, desvendar o mote se mostra um desafio cerebral. Paula se lembra do rosto do atirador, mas não consegue identificá-lo em meio a dezenas de fotografias apresentadas na delegacia.

Ao longo de meses, ela e o irmão procuram o investigador em busca de novidades sobre o caso, mas é inútil. Seu pai se tornou apenas mais um número nos índices de homicídio de Medellín. Até que um dia, Paula, que tenta anestesiar a dor de seu luto com drogas e bebidas alcoólicas com os amigos, avista o atirador em uma boate. Sabendo que ele não a viu no momento em que disparou contra seu pai, Paula decide se aproximar dele para, eventualmente, se vingar. Este é o momento em que Mora desvincula ficção da realidade, já que seu pai, um advogado de direitos humanos baleado por um desconhecido, nunca teve o caso solucionado. A família jamais soube quem foi seu assassino.

Mas assim como Quentin Tarantino cria seu próprio desfecho para a história em “Bastardos Inglórios”, Mora decide que sua alter ego, Paula, ficará cara a cara com o assassino de seu pai. O nome do rapaz é Jesús (Giovany Rodriguez) e ela facilmente, consegue adentrar o mundo dele. Em partes, porque ela parece indefesa o bastante para não ser intimidadora para ele. Também porque ele se sente atraído por ela. Jesus, por outro lado, é um marginal das favelas, pobre, desprivilegiado.

Transtornada e autoconfiante, ela quer resolver o caso por si só, acreditando na falta de vontade das autoridades em dar um desfecho ao crime. Ela planeja comprar uma arma e é Jesus quem a ensina a atirar, mal sabendo ele que a intenção dela é matá-lo. O problema é que enquanto convivem, Paula sente seu ódio ser catalisado em empatia. Essa estranha relação, construída com intenções ocultas, implode em algo profundo e afetuoso, colocando a questão moral também em evidência.

Com paisagens urbanas, especialmente das favelas colombianas, o filme de cores predominantemente sóbrias e contrastantes cria bastante realismo, intensidade e drama à história, destacando a brutalidade da violência de Medellín.


Filme: Matar Jesus
Direção: Laura Mora Ortega
Ano: 2018
Gênero: Drama/Policial
Nota: 9/10