A  comédia romântica europeia, na Netflix, que vai renovar sua fé nos seus sonhos Simone Florena / Netflix

A comédia romântica europeia, na Netflix, que vai renovar sua fé nos seus sonhos

Era o ano de 1968, um período tumultuado que ficaria marcado como “o ano que não acabou”. Durante esses 12 meses, o mundo testemunhou eventos fatídicos, como os assassinatos de Martin Luther King e Robert Kennedy, a Guerra do Vietnã, a Primavera de Praga, as revoltas estudantis na França, a Passeata dos 100 mil no Brasil, os protestos negros nos Jogos Olímpicos e uma revolução cultural sem precedentes. Aquele foi um momento de intensa agitação global, onde a busca por liberdade e mudança estava no cerne de diversas manifestações e movimentos.

Na pacata comuna de Rimini, na costa adriática italiana, o engenheiro Giorgio Rosa, conhecido como o “pai dos anarquistas”, decidiu empreender sua própria revolução. Em um ato de protesto contra o autoritarismo estatal, ele construiu sua própria ilha no meio do oceano, além das fronteiras europeias. Uma plataforma de 400 metros quadrados, sustentada por pilares de aço, simbolizando a luta de uma geração pela liberdade. O gesto audacioso de Rosa foi uma expressão tangível do anseio por autonomia e resistência à opressão.

O cineasta italiano Sydney Sibilia, habilidoso em transformar narrativas extraordinárias em comédias cativantes, deu vida à história de Rosa em “A Incrível História da Ilha das Rosas”, que está na Netflix. O filme, repleto de sutilezas e rebeldia, desvenda a trama fascinante que quase se concretizou. A saga de Giorgio Rosa, interpretado por Elio Germano com maestria, se desenrola com o auxílio de personagens como Maurizio Orlandini, Gabriella a advogada internacionalista, o alemão expatriado W. R. Neumann, o náufrago Giovanni Leone e a grávida feminista Franca.

Giorgio Rosa, um idealista, sonhador e rebelde, acreditava que a Ilha das Rosas poderia ser um refúgio para os marginalizados e rejeitados pelos governos, em busca de liberdade e pertencimento. Com o acréscimo de Neumann, a plataforma transformou-se em um local ainda mais efervescente, palco de festas, jogos de apostas e outras atividades. Adotando o esperanto como língua oficial e Giorgio como presidente, a ilha desenvolveu sua própria moeda e um posto oficial de correspondência. O influxo de cartas diárias pleiteando cidadania evidenciava o apelo e a curiosidade que o lugar despertava, consolidando-se como ponto turístico frequentado por visitantes de toda a Europa.

O sucesso e a notoriedade da Ilha das Rosas despertaram a apreensão do governo italiano, que viu no projeto uma potencial ameaça e um precedente para iniciativas semelhantes. Em resposta, declararam guerra à ilha, alegando que era apenas um resort destinado a arrecadar dinheiro com eventos, escapando de impostos e legislações. A batalha de Giorgio Rosa e seus aliados contra o sistema tornou-se uma luta pela preservação de sua visão utópica em meio à resistência oficial.

Sydney Sibilia, com sua abordagem quase lúdica das histórias que escolhe contar, insere em seus filmes elementos de fantasia, surrealismo e nostalgia. Suas obras são, frequentemente, uma expressão de amor à sua pátria e à cinematografia italiana, transformando exageros em tiradas deliciosas que proporcionam leveza a temas densos e políticos. O retrato de Giorgio por Sibilia é o de um sonhador, irresponsável e imprudente, mas repleto de otimismo e boas intenções. A atuação carismática e doce de Elio Germano cativa o público, tornando Giorgio uma figura inesquecível nesta incrível narrativa de rebelião e busca pela liberdade.


Filme: A Incrível História da Ilha das Rosas
Direção: Sydney Sibilia
Ano: 2020
Gênero: Comédia/Aventura/Drama
Nota: 9/10