Thriller de ação que acaba de chegar à Netflix é injeção de energia para terminar janeiro Stefano Cristiano Montesi / Netflix

Thriller de ação que acaba de chegar à Netflix é injeção de energia para terminar janeiro

Kevin Hart é o homem da hora — ao menos na Netflix. Não é fruto do acaso que o comediante tenha aparecido com frequência cada vez maior em longas do streamer, com quem assinou um contrato que o autoriza a produzir e estrelar  alguns projetos num mesmo ano, o que pode vir a ser uma bênção ou uma praga.

Hart tem se saído muito acima da média em trabalhos a exemplo de “O Homem de Toronto” (2022), dirigido por Patrick Hughes, e “De Férias da Família” (2022), de John Hamburg; o problema é que, na essência, descontando-se um ou outro diálogo ou um ou outro enquadramento, esses filmes, são acintosamente parecidos, o que não demora a se tornar um motivo bastante razoável para que o público os evite. No que respeita a “Lift: Roubo nas Alturas”, a direção tarimbada de F. Gary Gray mantém o enredo a salvo dos exageros tão característicos das performances de Hart, que em vários momentos chega a desconcertar pela prudência.

Cyrus, o chefe de um bando de estelionatários de atuação internacional, comanda aquele que pode ser seu tiro de misericórdia nas forças de repressão do mundo todo. O roteiro de Daniel Kunkalocaliza as primeiras imagens em Veneza, onde está o personagem de Hart, se dirigindo para um leilão de obras de arte contemporânea, inaugurado pela oferta de “O Prelúdio”, do retratista americano Kehinde Wiley, pupilo autodeclarado de Van Gogh.

Involuntariamente, Kunka tece críticas saborosas aos descalabros do comércio de pinturas e esculturas de artistas do nosso tempo, que vende como joia rara bugigangas que, cedo ou tarde, pulam de galpão em galpão, supervalorizadas, é verdade, mas esquecíveis e incapazes de despertar o senso crítico e muito menos a devoção estética de ninguém. Registrado com o sugestivo nome de John Bratby, o trambiqueiro Cyrus é observado de perto pela investigadora Abby, e mesmo que demore, Hart e  Gugu Mbatha-Rawrespondem pelos lances mais argutos da história, inclusive com a elaboração de um romance nada convencional na iminência do desfecho. 

Enquanto isso, Gray desenvolve com graça e ritmo o mote central do enredo, o sequestro de meio bilhão de dólares em barras de ouro, a quarenta mil pés, numa aeronave da Sky Suisse com destino a Zurique. O plano de Abby para a captura de Cyrus tinha tudo para ser rápido e discreto, mas ela não contava com as muitas ramificações da quadrilha, com braços inclusive no sistema de gerenciamento de tráfego aéreo, com uma cena corajosa em que Harry, o funcionário do aeroporto vivido por David Proud, paraplégico na vida real, acusa uma colega de capacitismo para ganhar tempo e executar sua parte no roubo. O politicamente incorreto é mesmo um aspecto a se destacar aqui, haja vista a rendição, não de Cyrus, mas de Abby.


Filme: Lift: Roubo nas Alturas
Direção: F. Gary Gray
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Comédia
Nota: 8/10