O filme da Netflix que pode consagrar Bradley Cooper com primeiro Oscar de sua carreira Divulgação / Fred Berner Films

O filme da Netflix que pode consagrar Bradley Cooper com primeiro Oscar de sua carreira

Martin Scorsese e Steven Spielberg, produtores de “Maestro” cogitaram dirigir o filme, mas decidiram por Bradley Cooper assim que assistiram “Nasce Uma Estrela”. Cooper também assina o texto ao lado de Josh Singer, além de protagonizar como Leornard Bernstein, regente, músico e compositor estadunidense. Seu talento multifacetado se apresenta de maneira extraordinária neste drama. Dizem que o ator dava ordens aos operadores de câmeras enquanto atuava em frente às lentes e sinalizava com suas mãos quando estas estavam fora o enquadramento. A todo momento, Cooper estava com o cérebro ligado em suas multitarefas.

E interpretar uma pessoa real não é nada fácil. Requer cuidado, respeito e  dedicação. Existe uma linha tênue entre imitar e caricaturar expressões, vocalizações e trejeitos. No entanto, Cooper teve a sensibilidade de coordenar todos os seus movimentos de forma realista e discreta, mesmo diante das explosões de movimentos de seu personagem. Foram anos de treinamento para reproduzir a cena em que Bernstein rege a Orquestra Sinfônica de Londres na Catedral de Ely. Além disso, uma polêmica prótese de nariz foi milimetricamente analisada com diversos testes de maquiagem e, embora o nariz de Cooper fosse similar ao de Bernstein, a prótese acentuava ainda mais os contornos e, apesar de críticas vindas de fora, os filhos do maestro aprovaram a decisão da equipe de optar pela mudança.

O enredo acompanha a vida do artista ao longo de mais de quarenta anos de carreira, seu casamento de aparências com a atriz Felicia Montealegre (Cary Muligan), sua dinâmica com os filhos e os relacionamentos calorosos de Bernstein com outros homens. Enquanto do ponto de vista estético, o filme exercita um trabalho meticuloso e fascinante, do ponto de vista narrativo, oferece mais do mesmo de tantas cinebiografias que surgem aqui e acolá.

No fim das contas, o que temos é um retrato de um mundo machista, em que Bernstein, embora um artista extraordinário e um marco cultural, não tem a mesma grandiosidade dentro de casa. Ele não consegue ser companheiro de sua esposa, que dedica a vida a cuidá-lo, e de seus filhos, enquanto ele não oferece devoção equivalente. Ao fim da história, fica a questão: o quanto de realismo e fidelidade aos fatos o filme oferece? Não sabemos, mas deve ser um nível minimamente razoável, já que a produção foi acompanhada pelos filhos do maestro.

Uma mistura de artista pop com músico erudito, Bernstein vivia uma vida dupla, de acordo com o filme. Embora seus casos com homens não fossem escondidos de sua esposa, ela, que teria aceitado as condições de sua relação alegremente no começo, parece se sentir, ao longo dos anos, cada vez mais isolada e às sombras do marido, abrindo mão de sua própria felicidade para que ele pudesse ser feliz. Em casa, ele demonstra sentimento de melancolia e insatisfação, enquanto longe e com os parceiros ele aparece sempre efusivo e exageradamente animado. De um modo geral, o filme não entranha nessa relação tão intricada de Bernstein com sua esposa, nem na sua personalidade ambígua, reduzindo e simplificando questões importantes, deixando vaga sua relação com os filhos, que embora o admirassem, tinham de conviver com sua ausência e negligência. Não há discussões e nem tentativas de acertos de contas. Tudo é calado e consentido.


Filme: Maestro
Direção: Bradley Cooper
Ano: 2023
Gênero: Biografia/Drama
Nota: 9/10