O filmaço com Michael B. Jordan, na Netflix, que lucrou dez vezes mais o próprio orçamento nas bilheterias Divulgação / Twentieth Century Fox

O filmaço com Michael B. Jordan, na Netflix, que lucrou dez vezes mais o próprio orçamento nas bilheterias

Eu não sei exatamente como “Chronicle”, filme de super-herói teen de Josh Trank, deu certo. Com um orçamento na casa dos 10 milhões de dólares, considerado baixo para os padrões hollywoodianos, gravado na Cidade do Cabo para reduzir os custos e primeiro longa-metragem do cineasta, a produção tinha tudo para ser um fracasso. Até porque o mercado estava, à época, e ainda está, saturado de superproduções de heróis. Por que alguém escolheria vê-lo nos cinemas ao invés de algum filme com personagens conhecidos da Marvel? Acontece que o mundo não gira, ele capota, e Trank, neste seu longa de estreia, disparou em primeiro lugar nas bilheterias, arrecadando dez vezes mais que seu custo.

Miles Teller, que estourou em grandes papeis, como Andrew, em “Whiplash”; o Peter de “Divergente”; e Rooster Bradshaw em “Top Gun: Maverick”, chegou a fazer os testes para o protagonista Andrew, que acabou ficando nas mãos de Dane DeHaan. Ele é um garoto impopular na escola e filho em uma família desajustada. A mãe está com câncer terminal e o pai é violento. O motivo pelo qual Andrew compra uma câmera filmadora é para flagrar e ameaçar expor o pai agressivo. No entanto, o adolescente nunca chega a usar seu equipamento para se vingar do pai. Ao invés disso, ele fica obcecado em documentar tudo que acontece à sua volta.

Seus dois únicos amigos são Matt Garetty (Alex Russell) e Steve Montgomery (Michael B. Jordan), que são seus opostos. Matt é seu primo, um jovem inteligente e popular, enquanto Steve é alegre e comunicativo. Andrew é  introspectivo, sofre bullying e se sente constantemente oprimido. Do lado de fora de uma festa, o trio é atraído por uma cratera misteriosa no chão, que contém um material cristalino de origem desconhecia. O enredo de Max Landis não dá conta de explicar ou aprofundar no material, mas se preocupa apenas em desdobrar as consequências do contato do trio com a coisa.

Andrew, Matt e Steve ganham poderes telecinéticos. Como qualquer adolescente, eles ficam deslumbrados com suas novas habilidades, que incluem voar, movimentar objetos com o poder da mente e arremessar coisas e pessoas com uma força monumental. Então, eles aproveitam esses poderes para sacanear alguns valentões e levantar saias de líderes de torcida. Eles ainda participam de um show de talentos, deixando a plateia desacreditada de seus truques. Mas grandes poderes nas mãos erradas podem fazer mais mal que bem. Aos poucos, os problemas na vida de Andrew se tornam pesados demais para alguém tão imaturo suportar e, como um jovem Anakin Skywalker, ele acaba cedendo para o lado negro da força. Se sentindo sozinho, incompreendido e com raiva, Andrew se isola de seus amigos e  começa a usar seus poderes para fazer mal às outras pessoas.

Então, o filme de Trank gira o tabuleiro e troca de protagonista. É a vez de observarmos os acontecimentos pela perspectiva de Matt. Embora tente se afastar de quem o amigo tem se tornado, ele se sente diretamente afetado por suas ações. Matt adoece e sangra pelo nariz cada vez que o espírito de Andrew se torna mais sombrio. Enquanto isso, o longa-metragem sugere a reflexão sobre quem seríamos se tivéssemos mais poder do que temos hoje. Mas não apenas isso, ele também argumenta sobre como nossas experiências de vida e traumas moldaram as pessoas que nos tornamos hoje.


Filme: Chronicle
Direção: Josh Trank
Ano: 2012
Gênero: Ficção Científica/Drama/Ação
Nota: 8/10