Pequena obra-prima do cinema francês é filme mais subestimado da Netflix Divulgação / Netflix

Pequena obra-prima do cinema francês é filme mais subestimado da Netflix

Na paisagem cinematográfica francesa, repleta de obras que desafiam o convencional, emerge “O Mundo é Seu”, um filme de Romain Gavras que transcende a mera etiqueta de entretenimento. Este longa-metragem, lançado em 2018, desdobra-se em uma teia de complexidades, interligando a brutalidade do crime organizado e a busca incessante pelo sucesso em uma sociedade cada vez mais corroída por suas próprias contradições.

Gavras, conhecido por sua habilidade em criar visuais estonteantes em videoclipes e comerciais, leva ao cinema uma narrativa que é tanto um comentário social quanto um estudo de personagens. A trama gira em torno de François, interpretado com maestria por Karim Leklou, um jovem preso entre os desejos de ascensão social e os grilhões de um passado familiar complicado. Sua mãe, Dany, vivida pela icônica Isabelle Adjani, é uma figura ambígua, que oscila entre o papel de vilã e protetora, complicando ainda mais a jornada de François.

O filme, ao mesmo tempo que homenageia o gênero de filmes de gângster, subverte suas convenções. Ao invés de glorificar o crime, Gavras utiliza o cenário caótico para explorar as nuances das relações humanas e a complexidade da moralidade em um mundo onde as linhas entre o certo e o errado são tênues. A abordagem do diretor é caracterizada por um estilo visual vibrante e uma narrativa que mistura humor, drama e ação, criando uma experiência cinematográfica única.

A jornada de François, de um homem dominado pela mãe a alguém que busca seu próprio caminho, é pontuada por escolhas difíceis e consequências devastadoras. Esta transformação não é apenas um arco narrativo, mas também uma metáfora para a luta constante entre a natureza humana e as estruturas sociais que tentam moldá-la. Gavras não se limita a contar uma história; ele questiona os fundamentos da sociedade contemporânea, explorando temas como capitalismo, corrupção, e a eterna busca pelo poder.

Com um elenco de apoio que inclui performances notáveis de Vincent Cassel e Oulaya Amamra, “O Mundo é Seu” se destaca não apenas pela sua história, mas também pelo talento de seus atores. Eles trazem profundidade a personagens que poderiam facilmente se tornar caricaturas em mãos menos habilidosas.

 “O Mundo é Seu” é um testemunho da habilidade de Gavras em criar uma obra que é ao mesmo tempo uma crítica social afiada e um retrato intimista de personagens complexos. O filme não apenas entretém, mas também provoca reflexão, deixando os espectadores com perguntas que ressoam muito depois que os créditos terminam. É um lembrete de que o cinema, em suas melhores formas, pode ser tanto um espelho da realidade quanto um instrumento para questioná-la.


Filme: O Mundo é Seu
Direção: Romain Gavras
Ano: 2018
Gênero: Comédia / Ação
Nota: 9/10